Generosidade e humildade (Apenas mais um João)
João acordou sobressaltado ao perceber que havia dormido além da hora. O relógio implacável marcava um atraso imperdoável para o compromisso mais importante de sua vida até então. Desesperado, pulou da cama e saiu correndo porta afora vestindo suas roupas.
Na rua, o sol já despontava no horizonte, e a agitação matinal era evidente. João estendeu o braço para chamar um veículo de aplicativo ou táxi. Quando finalmente um carro parou, João saltou de alegria, mas sua felicidade durou pouco. Enquanto ajeitava a mochila para entrar, uma senhora de semblante severo surgiu do nada e o empurrou para o lado, entrando no carro, deixando-o ali, perplexo e atónito.
Sem tempo a perder, João se viu correndo pelas ruas, tentando encontrar uma alternativa para ir ao destino. Alcançou um ônibus lotado, se espremeu entre passageiros, aceitando a situação sem perder a calma nem a compostura.
Chegando à sua parada, desceu correndo, tropeçando nas próprias pernas e pedindo desculpas às pessoas pelo caminho. Ao alcançar o saguão do prédio, avistou o elevador fechando a porta. Determinado, tentou alcançá-lo, mas a porta se fechou. Lá dentro viu a mesma senhora que o olhou com olhar de reprovação e desdenho. Respirando fundo, João decidiu subir as escadas correndo, ignorando a exaustão que se acumulava em seu corpo. Ao chegar ao salão, sua respiração estava ofegante, mas sua determinação permanecia inabalada. Ao olhar para a sala cheia de pessoas, seus olhos se fixaram na senhora de mau humor, que o encarava com um misto de desprezo e irritação.
Sem hesitar, João sorriu para ela, irradiando gentileza e compaixão.
Nesse momento, o médico e a enfermeira se aproximaram, trazendo consigo uma aura de esperança. “O doador de medula para sua neta acaba de chegar”, anunciaram, com um sorriso reconfortante.
João sentiu um nó se formar em sua garganta, enquanto a gratidão inundava seu coração. Sem palavras, ele deu um passo à frente, pronto para fazer o que fosse necessário para ajudar a pequena vida que dependia dele.
A mulher de olhos arregalados viu em sua frente o homem que, por duas vezes, tentava chegar em seu destino para salvar a vida de sua neta e ela, com sua arrogância e soberba tentou impedir-lhe a chegar ao destino.
E naquele instante, ficou claro para todos ali presentes que a verdadeira essência de uma pessoa não está nas palavras que profere ou nos gestos que faz, mas sim na capacidade de mostrar compaixão e generosidade, mesmo nas situações mais desafiadoras.
A mensagem era clara: seja sempre gentil, nunca subestime ou impaciente. Às vezes, as pessoas que menos esperamos são aquelas que nos ajudarão a alcançar a luz no fim do túnel.
Gentileza gera gentileza. Segurar a porta do elevador, abrir uma porta para que alguém também usufrua de um bem comum e público, segurar sacolas, dar a vez na fila de supermercado quando alguém tem menos produtos a pagar são pequenos exemplos que ajudam a mudar o mundo. Experimente fazer isto!
Gregório José