Fábio e Cafôfo: Ganhar ou Ganhar
O que têm em comum Fábio Pereira, treinador do Marítimo, e Paulo Cafôfo, Presidente do PS Madeira? Na circunstância em que ambos se encontram, mais do que à partida parece.
Fábio Pereira, madeirense e maritimista de gema, chegou ao Marítimo com a época em andamento, com um plantel que não foi construído por si e com o clube a fervilhar na sequência de duas eleições em dois anos, que mudaram radicalmente o nosso paradigma diretivo e desportivo. Apesar do cenário difícil, Fábio Pereira foi claro desde a primeira hora: chegado à sua cadeira de sonho, a ambição é devolver o Marítimo ao sítio onde pertence - ao mais alto escalão do futebol português. Gosto da determinação que o treinador do Marítimo revela nas conferências de imprensa e da raça que transmite na volta que dá aos Barreiros no final de cada jogo - mas suspeito que, chegados aqui e perante os últimos resultados, os sócios e adeptos do Marítimo, entre os quais me incluo, tenham começado a perder a paciência, porque exigem ainda mais.
Não duvido, por um minuto que seja, do maritimismo de Fábio Pereira, maior do que o de muitos outros - muito provavelmente do que o meu também. Hoje, todos conhecemos uma parte importante da sua história: a de um atleta de elevada qualidade a quem o destino e uma lesão trocou as voltas. Até aqui, não é uma história diferente da de muitos madeirenses que vestiram as cores do Marítimo - mas é também a partir daqui que se torna única: é que o Fábio não aceitou o que o destino lhe reservou e encontrou forma de voltar a vestir as nossas cores. Construiu uma carreira de treinador de sucesso e chegou à cadeira que muitos gostavam de ocupar - mas que não ocuparam, não ocupam e nunca ocuparão. O sonho de Fábio Pereira é, convenhamos, motivo da inveja de muitos e do escárnio de outros. Visto da bancada, todos faríamos, obviamente, melhor. E também sei que, ao dia de hoje, nenhum maritimista quererá ganhar mais do que ele - porque é, em boa verdade, o único que tem o lugar em causa, se não cumprir o objetivo que todos desejamos.
Ora, serve tudo isto para chegar a uma conclusão: a Fábio Pereira a única hipótese que resta é ganhar - e é assim porque não passa pela cabeça de nenhum maritimista continuar na II Liga. E é precisamente por ser madeirense e maritimista como nós, por perceber melhor do que muitos de nós o que está em causa, que lhe exigimos tanto, certos de que nos perdoará alguma injustiça e excesso na ambição e no desejo.
Paulo Cafôfo e a sua história é bem conhecida de todos os madeirenses. Concentremo-nos no capítulo mais recente: depois do desastre das últimas eleições regionais, Cafôfo “regressou” aos comandos do PS com a afirmação, inequívoca, de que a sua causa é a Madeira, porque mudá-la é o sonho da sua vida - e ainda que tenha discordado, muitas vezes, dos métodos e das opções, não tenho motivos para duvidar que assim seja. Mas ao contrário de Fábio, Cafôfo regressou com o partido pacificado à sua volta e num contexto político altamente favorável, perante uma crise sem precedentes, com um Governo Regional demitido na sequência de um processo judicial de contornos nebulosos, uma Coligação devassada, um PSD Madeira dividido como nunca e um CDS a lutar contra a extinção. Depois do pé esquerdo nas decisões que envolveram os órgãos internos e a política nacional, Cafôfo deu um sinal diferente na hora de iniciar a nova “época” e escolher o “plantel” para as regionais: de arrependimento e inteligência, ao integrar na lista candidata às eleições os autarcas que muitos dos que agora a aprovaram disseram que eram dispensáveis em setembro. O calculismo interno e o fanatismo em torno das lideranças convivem mal com a coerência. Como “treinador de bancada”, teria ido mais longe na “limpeza de balneário” e contratado mais “reforços”, mas as coisas são o que são e o que esperamos é ganhar na mesma.
O sonho de Fábio Pereira, de levar o Marítimo o mais longe possível, e o de Paulo Cafôfo, de mudar a Madeira, são os sonhos de muitos madeirenses. Um e outro representam, hoje, a esperança de milhares de pessoas que esperam deles o discernimento necessário para nos levarem às vitórias. Esperança que é também exigência. A um e a outro, não sobra outra coisa: ganhar, ou ganhar. É isso que muitos como eu desejam: pelo bem do Marítimo, pelo melhor para a Madeira.