Autorizada entrada de ajuda humanitária através do Chade na região de Darfur
O Governo do Sudão anunciou hoje que voltou a permitir, após mais de um mês de proibição, a entrada de ajuda humanitária através do Chade para a região de Darfur (oeste).
As autoridades sudanesas tinham proibido essa ajuda humanitária no contexto da guerra aberta que enfrentam com o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) acusando os paramilitares, que controlam o Darfur, de utilizarem a passagem para transportar armas e equipamento militar e de pilharem ajuda destinada a civis.
A medida foi repetidamente denunciada pela ONU e por outras organizações humanitárias, dadas as consequências trágicas da guerra no país africano para a segurança alimentar e para o setor da saúde do Sudão.
Em comunicado oficial, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Sudão anunciou hoje ter informado as Nações Unidas da decisão do governo de permitir que uma carga de ajuda atravessasse a passagem terrestre de Al Tina, na fronteira com o Chade, para a cidade de Al Fasher, capital do estado de Darfur do Norte, uma das regiões mais afetadas pela guerra.
Esta decisão foi tomada "depois de um acordo sobre os aspetos técnicos entre os governos sudanês e chadiano", acrescenta a nota, referindo que a travessia de Al Tina se junta a três outras rotas terrestres, incluindo duas do Egito e uma do Sudão do Sul.
O Governo sudanês "autorizou igualmente a utilização dos aeroportos de Al Fasher, Kadugli e Al Obeid em caso de dificuldades de acesso por via terrestre", localidades situadas no centro do país.
"O Governo renova as suas promessas e compromissos no sentido de facilitar o acesso humanitário às pessoas afetadas e necessitadas em todo o país através dos portos, postos de passagem e aeroportos dentro das fronteiras nacionais", acrescentou a declaração.
De acordo com a agência da ONU para os refugiados (ACNUR), o Chade tinha recebido mais de 553.000 pessoas do Sudão até meados de fevereiro, o que o torna o maior país de acolhimento, com um total de 1,1 milhões de sudaneses já a viver no país.
O exército e as RSF estão em guerra aberta desde 15 de abril de 2023, data em que os paramilitares se rebelaram contra o exército devido a desacordos sobre a sua integração nas forças armadas, e no meio de um processo de transição na sequência de um golpe de Estado militar em 2021.
Desde então, cerca de 13.900 pessoas foram mortas e 8,1 milhões fugiram das suas casas devido à guerra, de acordo com o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).
O conflito no Sudão arrisca-se a ser a maior crise alimentar do mundo, numa altura em que as atenções da comunidade internacional estão concentradas na guerra no Médio Oriente, disse hoje a diretora do Programa Alimentar Mundial da ONU, Cindy McCain, no final de uma viagem ao vizinho Sudão do Sul, para onde centenas de milhares de sudaneses fugiram dos combates no país de origem.
As declarações de McCain surgem poucos dias depois de o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, ter afirmado que a ONU vai continuar a apoiar o povo sudanês, apesar da Missão das Nações Unidas ter concluído a 29 de fevereiro a retirada do país.