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Peritos da ONU condenam "massacre" de palestinianos que esperavam farinha

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Peritos das Nações Unidas condenaram hoje o "massacre" ocorrido na quinta-feira passada em Gaza e acusaram as forças israelitas de disparar contra uma multidão de palestinianos que esperavam ajuda humanitária, causando pelo menos 112 mortos.

"Israel tem vindo a matar intencionalmente à fome o povo palestiniano em Gaza desde 08 de outubro. Agora tem como alvo os civis que procuram ajuda humanitária e os comboios humanitários", afirmaram os peritos da ONU, num comunicado divulgado hoje.

As pessoas, descreveram, esperavam para recolher farinha "num contexto de fome inevitável e de destruição do sistema de produção alimentar local no enclave palestiniano sitiado".

As Forças de Defesa de Israel (FDI) negaram, no próprio dia, ter disparado contra o comboio humanitário, atribuindo as mortes à confusão causada pela multidão, que se precipitou sobre os camiões para os pilhar, segundo a versão israelita.

"Israel tem de pôr termo à sua campanha de fome e de ataque a civis", defendem os peritos.

"O massacre de 29 de fevereiro seguiu um padrão de ataques israelitas contra civis palestinianos que procuravam ajuda, com mais de 14 incidentes registados de tiroteios, bombardeamentos e ataques a grupos reunidos para receberem os abastecimentos urgentemente necessários de camiões ou de aviões entre meados de janeiro e o final de fevereiro de 2024", relatam, adiantando que Israel "também abriu fogo contra comboios de ajuda humanitária em várias ocasiões, apesar do facto de os comboios terem partilhado as suas coordenadas".

Por outro lado, acusam Israel de "negar e restringir sistematicamente a entrada de ajuda humanitária em Gaza".

Os peritos recordam que, na decisão em que reconheceu a plausibilidade do genocídio cometido por Israel, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) ordenou a Telavive que permitisse a entrega de serviços básicos urgentes e de ajuda humanitária no enclave.

"Em janeiro, antes da decisão do tribunal, entravam em Gaza uma média de 147 camiões por dia. Desde que o acórdão foi proferido, apenas 57 camiões entraram entre 09 e 21 de fevereiro", exemplificam os relatores especiais da ONU, para justificar que Israel "não está a respeitar as suas obrigações jurídicas internacionais nem as medidas provisórias" decretadas pelo TIJ.

No comunicado, os especialistas alertam para o risco de fome, que "continua a aumentar" na Faixa de Gaza.

Pelo menos 15 crianças já morreram de subnutrição e as crianças com menos de 05 anos -- 335.000 -- "correm um risco elevado de subnutrição grave".

"Já o dissemos antes: estamos alarmados por ver uma população civil inteira a sofrer uma fome sem precedentes, de forma tão rápida e completa", afirmam os peritos, defendendo que "a única forma de evitar ou acabar com esta fome é um cessar-fogo imediato e permanente".

Sobre as negociações em curso entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas para um cessar-fogo de 40 dias, em que Telavive se comprometeu a permitir a entrada de camiões e a entrega de tendas, caravanas, combustível essencial, materiais de construção e equipamento para reabilitar infraestruturas críticas, como hospitais e padarias, os peritos advertem que "a ajuda humanitária não deve ser utilizada como moeda de troca nas negociações".

"Reiteramos o nosso anterior apelo dos procedimentos especiais da ONU para um embargo de armas e sanções contra Israel, como parte do dever de todos os Estados de garantir o respeito pelos direitos humanos e pôr termo às violações do Direito humanitário internacional por parte de Israel", insistiram.

Entre os signatários desta posição estão a relatora especial para a situação dos direitos humanos nos territórios palestinianos ocupados desde 1967, Francesca Albanese -- recentemente proibida de entrar em Israel -, o relator especial para o Direito Humano à Alimentação Adequada, Michael Fakhry, ou o relator especial para o direito à água, Pedro Arrojo.

Os peritos da ONU desenvolvem um trabalho independente da organização e as suas opiniões não representam a das Nações Unidas.