Portos, como o de Veneza, limitam o número de passageiros desembarcados dos cruzeiros?
A pressão dos turismo sobre as cidades europeias, sobretudo nos centros históricos e áreas classificadas, mas também nos destinos de natureza, está a gerar reacções, tanto dos municípios como dos moradores.
A maioria das cidades cobram taxas turísticas aos hóspedes dos hotéis e, nos portos, os passageiros de navios de cruzeiros também pagam. Mas há medidas ainda mais restritivas, com vista a diminuir o impacto de grandes grupos de turistas.
Recentemente, um comentário na página online do DIÁRIO, referia que, em Veneza, haveria uma limitação ao número de passageiros desembarcados dos navios de cruzeiros. O leitor dizia que eram 8.000 e que esse poderia ser um exemplo para o Porto do Funchal que também regista um número muito significativo de passageiros desembarcados.
Veneza é uma das cidades da Europa com maior taxa de entrada de turistas. Com uma população de cerca de 270 mil habitantes, a média de visitantes ultrapassa 3 milhões todos os anos, mesmo com restrições e taxas turísticas elevadas.
Uma das imagens mais difundidas e aproveitadas pelos operadores turísticos, é a entrada de grandes navios de cruzeiros na laguna de Veneza e pelos canais que passam pela Praça São Marcos. Uma imagem que deixou de ser possível a partir de 2021, quando foi proibida a circulação de grandes navios – mais de 25 mil toneladas, 180 metros de comprimento e 35 metros de altura -, numa medida legislativa, promovida pelo Ministério dos Transportes e que teve o apoio do município e da população.
Na prática, apenas ferrys de menores dimensões e pequenos navios mantiveram a autorização. Os grandes navios de cruzeiro, no entanto, não deixaram de operara para Veneza. Passaram, sim, a utilizar o porto de Marghera, um dos mais importantes do Adriático, a poucos quilómetros da cidade. Foram criadas áreas específicas para cruzeiros num porto que até então era destinado a porta-contentores e petroleiros.
Esta medida restritiva teve como justificação a ameaça da UNESCO de retirar a Veneza e à sua laguna a classificação e Património Mundial da Humanidade, devido à poluição provocada pelos navios e degradação de edifícios classificados.
Embora a restrição de acostagem de navios de grande porte tenha enfrentado entraves legais, dirimidos em tribunal, os grandes armadores que operam navios de cruzeiros decidiram respeitar a regra e esperar por uma medida alternativa que estará a ser preparada.
Ou seja, não é certo que tenham sido estabelecidas normas que definem o máximo de passageiros desembarcados, o que aconteceu foi a proibição para os maiores navios de cruzeiros.
Taxa de visita
Veneza, tal como outras cidades europeias – Marselha, Sevilha, Atenas ou Amsterdão são alguns exemplos – decidiu aplicar taxas turísticas que não se limitam aos hotéis.
A partir do próximo mês (Abril), todos os não residentes na região do Veneto que entrarem em Veneza e não estejam hospedados em hotéis da cidade, terão de pagar uma taxa, de 5 euros, que se aplica entre as 8h30 e as 16h00, a maiores de 16 anos. Os viajantes que pretendem visitar Veneza terão de fazer um registo. Uma medida que poderá gerar muita confusão.
O conselho municipal também decidiu limitar os grupos de turistas a 25 e baniu a utilização de megafones e equipamentos de som pelos guias. Também o número de licenças de gôndolas foi reduzido, bem como o número de passageiros por cada embarcação.
Mais uma vez, não há limite para o número de turistas que entram em Veneza, mas há grandes restrições que nãos e limitam aos passageiros dos navios de cruzeiros que, tal como os restantes, terão de pagara a ‘taxa de visita’.
Por tudo o que foi referido, a afirmação do leitor sobre o porto de Veneza não é exacta mas, de forma alguma, pode ser considerada falsa, uma vez que há medidas para tentar conter a entrada de turistas.
53 milhões na economia regional
O Porto do Funchal registou, em 2023, segundo dados da Administração dos Portos da Madeira (APRAM), a entrada de 624.400 passageiros de navios de cruzeiro, a que se somam 241.000 tripulantes, num total de 273 escalas.
Tendo por base a despesa média, de turistas e tripulantes, a APRAM considera que terão entrado 53 milhões de euros na economia madeirense.
Uma verba que é derramada por diversos sectores, como transportes, restauração, comércio e empresas de turismo.
Em 2023, a Madeira recebeu, pelo segundo ano consecutivo, o prémio de Melhor Destino de Cruzeiros, nos World Cruises Awards.
Taxa só em 2025
A Câmara Municipal do Funchal vai aplicar uma taxa turística de 2 euros por noite aos hóspedes das unidades hoteleiras. Uma medida que é comum a praticamente todas as cidades com forte procura turística.
Esta taxa também será cobrada aos passageiros dos navios de cruzeiros que desembarquem no Porto do Funchal, mas a sua aplicação foi adiadas seis meses, pelo que só deverá entrar em vigor em 2025.