Crise climática vai piorar conflitos, sobretudo em África
Pelo menos 1,8 mil milhões de pessoas vivem em países gravemente ameaçados pela crise climática, um número que aumentará para 2,8 mil milhões em 2050 e que "aumentará os conflitos", especialmente na África subsaariana, segundo um relatório.
No Relatório sobre Ameaças Ecológicas-2023, do Instituto para a Economia e a Paz (IEP), divulgado, no domingo, analisa-se a relação entre os efeitos das alterações climáticas e o crescimento descontrolado da população, a insegurança alimentar e a sua relação com a eclosão de conflitos.
"A crise climática e a violência estão fortemente ligadas", afirmou Serge Stroobants, diretor do IEP para a Europa e Médio Oriente, responsável pelo relatório, alertando para o facto de a atual escalada da guerra global "criar uma maior insegurança global".
Dos 221 países analisados no estudo, 66 enfrentam pelo menos uma ameaça ecológica grave, distribuída de forma desigual pelo mundo, a maioria dos quais na África subsaariana.
Os quatro países com maior risco de crise climática são a Etiópia, o Níger, a Somália e o Sudão do Sul.
"As alterações climáticas estão a gerar conflitos em locais como o Corno de África", afirmou Nazanine Moshiri, analista de Clima e Conflitos do Grupo de Crise Internacional, que disse que "a competição pelos recursos naturais causa disputas" e "leva os jovens a deixarem os seus empregos e a juntarem-se às milícias".
A incapacidade de muitos países para fazer face às catástrofes naturais levou a um aumento da necessidade de financiamento para a assistência a catástrofes, com o Fundo Central de Resposta a Emergências (CERF, na sigla em inglês) a afetar 35% do seu orçamento à assistência a catástrofes em 2022, contra 17% há uma década.
O relatório também alerta para o aumento da pressão populacional, com o rápido crescimento da população a comprometer o acesso a recursos básicos e a resistência a catástrofes naturais, especialmente em áreas que já estão em risco e têm baixos níveis de paz.
"Prevê-se que mais de 40% da área terrestre mundial registe um crescimento populacional superior a 20% até 2050, metade do qual em países com níveis de paz muito baixos", alerta-se no relatório.
"Sem uma ação internacional concertada, os atuais níveis de degradação ecológica irão agravar-se substancialmente, intensificando problemas sociais como a subnutrição e a migração forçada", afirmou Stroobants.