A Paixão da Autonomia
Na Madeira, pátio da Autonomia - filha de abril - em plena campanha eleitoral para eleições antecipadas devido à autodemissão de um Primeiro-Ministro investigado pela justiça, vive-se um limbo entre um empurrado demissionário Presidente do Governo Regional, arguido pela mesma justiça. Contudo, ele pensa ser uma Fénix que se erguerá das cinzas em tempo recorde, escudado pela imunidade e pelo ‘tsunami’ de simpatia que promove, cuja propaganda pessoal, escorre paralelamente à medíocre campanha do seu próprio partido, ofuscando-a. Ora, no semblante desanimado dos seus próprios candidatos regionais, ora na distância sanitária que o PSD nacional impõe, face ao risco de contágio, que o atual líder regional irradia a partir da Madeira, superando em toxicidade, aquele fadista marialva do PPM escondido pela AD.
Albuquerque de forma egoísta enferma o PSD, e em suma, a própria Autonomia, tal como fez Alberto João Jardim, nos últimos anos do estertor da sua liderança, onde a hegemonia social-democrata começou a abrir brechas no castro insular da “laranjada”.
A Autonomia enquanto valor primacial dos portugueses das ilhas, está ferida, não obstante as conquistas atingidas. Quase meio-século depois, os mais beneficiados foram apenas um punhado de eleitos. Aqueles que Sérgio Marques referiu há um ano, nas longas “horas de burro” a ele imputadas, que se transformariam em 21 dias, no cárcere anexo à PJ em Lisboa para três detidos. O calvário foi objeto da compaixão humana, do abjeto desdém ao Ministério Público, até à libertação dos martirizados prisioneiros, como se estes tivessem sido expurgados de toda a lama, e garantido assento no Reino dos Céus à direita do Pai, como Jesus, Dimas e Gestas após a crucificação descrita nos evangelhos canónicos e apócrifos. Espero que ainda antes das eleições, se saiba algo mais, do inquérito NUIPC 264/21.6TELSB referido pelo comunicado da PGR de 16 de fevereiro, que já não está sujeito ao segredo de justiça.
E no que à justiça diz respeito, quase sete anos foram necessários, para a absolvição dos arguidos, sobre os quais, pendiam responsabilidades na morte de 13 pessoas e ferimentos em mais de uma meia centena de outras, quando sobre elas se abateu a árvore no verão de 2017 na Festa do Monte. Mais uma vez a culpa permaneceu celibatária, num processo a que o Ministério Público, desde as primeiras horas, foi insolente, não isolando a área por longas dezenas de horas, até as perícias ocorrerem de forma imparcial, como é suposto ocorrer num Estado de direito de uma democracia ocidental.
A saga humilhante na obtenção do reembolso do subsídio de mobilidade social no transporte aéreo foi adensada temporariamente, mas voltou ao mesmo formato. Por vezes o Estado (pessoa de bem) lembra-nos que pode ainda nos dificultar mais a vida, para depois recuar ao mesmo suplício. Será que os candidatos da Madeira à Assembleia da República estão mesmo dispostos a se debaterem contra os diretórios dos seus partidos, para que os madeirenses apenas paguem à cabeça os 86,00 €. Veremos o alcance dessa “paixão” autonomista.