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Madeira

Combate à obesidade deve assentar na prevenção

Pedro Ramos reconhece que mais de três centenas de madeirenses aguardam por uma cirurgia bariátrica, mas defende que o foco deve ser colocado nas medidas preventivas

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Foto DR

Quase 60% da população madeirense tem excesso de peso. A pandemia fez ‘engordar’ este número que se reveste de um problema de saúde pública e cuja abordagem pelas autoridades de saúde regionais tem sido feita de forma multidisciplinar.

A obesidade é um problema de saúde pública que também afecta muitos madeirenses. Isso mesmo constatou Pedro Ramos, na sua participação na Mesa Redonda que decorre, esta tarde, com o objectivo de assinalar, por cá, o Dia Mundial da Obesidade. Mas o secretário regional de Saúde e Protecção Civil colocou a tónica de actuação na prevenção e não tanto no tratamento do problema, responsabilizando a população e as famílias pela adopção de um estilo de vida mais saudável.

Quando quase 60% da população madeirense com mais de 18 anos tem excesso de peso, e perante evidencias do aumento deste número entre as crianças, o governante assegura que as situações estão devidamente identificadas e que as autoridades regionais têm várias medidas no terreno para contrariar esse crescimento.

Provavelmente a mensagem ainda não está totalmente captada. E estas acções de sensibilização e educação têm principalmente esse objectivo, que as pessoas comecem a adoptar outros comportamentos, outros hábitos de vida, hábitos de vida mais saudáveis. E, portando, penso que, a breve trecho, vamos ter outro tipo de resultados. Pedro Ramos, secretário regional de Saúde e Protecção Civil  

Mas, na prática, o número de utentes que aguarda por uma cirurgia bariátrica mantém-se muito acima da capacidade de resposta do Serviço Regional de Saúde. Aos jornalistas, o secretário regional apontou para três centenas de madeirenses referenciados para esse tratamento de ‘fim de linha’, mas que estão em lista de espera.

“A obesidade começa muito cedo e tem vários tipos de responsáveis. Esses responsáveis têm de perceber que é mais fácil proteger, é mais fácil promover a saúde, é mais fácil prevenir a doença”, afirmou o governante, apontando que o SESARAM tem, ainda assim, respostas adequadas para o tratamento. Nesse sentido, destacou a criação de um grupo com “muita diferenciação”, nomeadamente ao nível cirúrgico, que opera cerca de 60 doentes por ano. Ainda assim, essa resposta está aquém da procura, já que mais de três centenas de utentes aguarda por uma cirurgia bariátrica.

“Mas, se calhar, não devemos estar preocupados com aquilo que temos de fazer a jusante, nós temos de nos preocupar cada vez mais com aquilo que temos de fazer a montante”, reforçou Pedro Ramos, salientando que essa é uma das medidas que faz parte do Plano Regional de Saúde e do Plano Regional de Segurança do Doente 20-30, consideradas fundamentais para que a Região alcance outros indicadores neste âmbito.

Também Margarida Ferreira entende que a prevenção é o melhor caminho para fugir à obesidade e evitar os problemas de saúde que daí possam resultar. A directora do Serviço de Endocrinologia do SESARAM diz ser fundamental “divulgar” formas de colocar essa prevenção em prática.

A médica diz essa prevenção não se deve limitar ao Dia Mundial da Obesidade, nem a abordagem feita neste dia se deve limitar a dar conta dos fármacos que não existem ou de cirurgias, devendo o foco da mensagem recair no que está ao alcance do cidadão para evitar a obesidade.

Margarida Ferreira nota que a “prevenção da obesidade” passa pela alteração de hábitos de vida, ter uma alimentação saudável e praticar mais exercício. Nesse âmbito entende que a actuação dos profissionais deve passar, acima de tudo, pela infância e pela adolescência. “É fundamental começar a prevenir a obesidade deste cedo”, realça, lembrando que uma em cada três crianças tem excesso de peso e cerca de 15% já tem obesidade, de acordo com os dados de 2022. Mas essa prevenção deve ser mais cuidada, também, entre a população acima dos 65 anos.

Custa-me que só se fale nas cirurgias e na medicação que não existe. Temos de investir na prevenção e é possível fazer isso. É barato, o problema é que os resultados são a longo prazo.  Margarida Ferreira, directora do Serviço de Endocrinologia do SESARAM

Mais do que a falta de recursos humanos, pois é possível fazer sempre mais, a médica endocronologista entende que o problema reside na pouca vontade "de implementar coisas". A par disso, salienta que a obesidade é uma doença multifactorial, que está associada ao aumento da diabetes, da patologia cardio-vascular e da patologia osteoarticular.

Quem trabalha para alterar estilos de vida e fomentar a adopção de uma alimentação mais saudável associada à prática de exercício fício é Ricardo Rodrigues. O técnico especialista em exercício físico do Clube Naval do Funchal defende a aposta em equipas multidisciplinares que trabalhem a parte nutricional e psicológica, associada ao exercício, para que as pessoas não desaninem com a tempo que demora até que alguns resultados sejam alcançados. 

Habituado a lidar com utentes com este tipo de problemas, Ricardo Rodrigues nota a necessidade de educar as pessoas para a adopção de uma vida mais saudável, tarefa que, muitas vezes, deve começar com a família, quando em causa estão crianças e jovens.