Albuquerque não tem sido presença habitual nos Dias das Freguesias?
A freguesia de São Martinho celebrou ontem o 445.º aniversário da Freguesia, comemorações que decorreram no Parque Urbano da Nazaré. Tudo normal não fosse alguns leitores notarem uma presença de uma personalidade pouco dada a este tipo cerimónias, mais simples, com menos pompa e circunstância, sem bandas filarmónicas, sem foguetes de estalo. Em síntese: mais pobres. Mas a figura que ressaltou à vista, ontem, em São Martinho, foi nem mais nem menos a de… Miguel Albuquerque.
E a pergunta que se impõe é a seguinte: Albuquerque tem sido presença nos Dias das Freguesias? É habitual ir em acto oficial?
Na verdade nem todas as 54 Juntas da Região preparam um programa festivo para solenizar a data como acontece com os Municípios: a razão para justificar a ausência numa efeméride a preceito, muitas vezes é explicada pela falta de orçamento. Existem outras autarquias que nem sabem ao certo qual o dia do aniversário.
Também se queixam da falta de dinheiro para não entrar em festança, e não fossem os protocolos realizados com as Câmaras Municipais nem tinham verbas suficientes para pagar as despesas quanto mais pensar largar foguetes, ter mesa farta de petiscos ou oferecer bebidas à descrição.
Essa excepção à regra acontece naquelas onde existe maior folga financeira, como é o caso de São Martinho cujo orçamento é de quase 1 milhão de euros ano ou como sucede com Câmara de Lobos, Santo António, Caniço, Machico, Curral das Freiras, só para citar as que reservam uma fatia das economias e aproveitam não só para não deixar passar a data, como serve para promover a localidade. Outros, porém, vão mais longe e fazem um balanço ao que exercício e aproveitam para reivindicar mais uma ou outra obra.
Dos que já chegaram em tempos a formalizar convites para o Dia da Freguesia, dizem-nos que a justificação para o chefe do Governo não ir e optar por fazer-se representar, tem sido a coerência e equidade, isto é, “se vai uma, teria de ir às restantes”. Este tem sido o argumentos dados e aceites nos últimos anos.
Mas Alberto Olim, Milton Teixeira e Manuel Salustino, três autarcas eleitos por cores partidárias distintos ficaram surpreendidos quando ontem viram o governante presidir a sessão comemorativa de São Martinho. Em bom rigor até nem ficaram tão incrédulos pelo facto de saberem que está a decorrer duas campanhas para outros tantos actos eleitorais: internas no PSD e Nacionais, e para qualquer político que se preze não aparecer é não ser lembrado.
“Comemoramos sempre o Dia da Freguesia, a 2 de Julho, e é hábito convidar o governo, mas nunca veio o presidente. A opção é mandar outra pessoas no seu lugar. O ano passado foi o secretário regional da Educação que marcou presença”, observa o socialista de Machico que apressa-se a dizer não ter rigorosamente nada contra Jorge Carvalho, mas “gostávamos muito que tivesse sido o presidente, no entanto também estou em crer que não vai mais virá porque o próximo a cá estar será o meu presidente do partido socialista que vai ganhar as eleições regionais e certamente terá outra consideração para com Machico que o actual presidente do Governo não tem tido”, reagiu, lançando uma farpa política ao social-democrata.
Também Milton Teixeira não esconde a sua surpresa por ter visto Albuquerque na cerimónia de São Martinho, embora rapidamente corrija o sentimento de espanto porque na sua opinião “existe uma espécie de metamorfose dentro do PSD-M”, e por haver essa tentativa de mudança “talvez sinta uma maior necessidade em querer aparecer a tudo o que há. Penso que foi mais isso, mas não deixou de cometer uma gafe”.
O autarca eleito pelo JPP também confirma que todos os eventos solenes convida várias entidades, inclusive o representante da República, o próprio Governo justamente por considerar que a dimensão da freguesia merece uma atenção especial, de qualquer modo “o presidente nunca veio ao Dia da Cidade”, responde. “Este ano faço questão que venha porque caso contrário abre um precedente”, diz-nos.
Quem já prepara os comes e os bebes é Manuel Salustino. Dentro de dias, a 17 Março, o Curral das Freiras completa 234 anos, e haverá bolo e velas para soprar. Afiança que tal como noutras efemérides remeteu “convite para a Presidência do Governo Regional”.
Recorda deste a localidade serrana que o modelo adoptado foi sempre indicar um dos secretários: “O presidente marca presença apenas nos dias das comemorações dos municípios, por isso não tenho esperança que seja ele”, observa. “Se não fez antes porque faria este ano”, questiona.
Manuel lembra as “expressivas vitórias” no PSD que “ajudaram a eleger sempre os líderes”, mas sente uma mágoa por nunca ter o gosto de ver um presidente numa sessão solene. E logo enumera os que ali já foram cantar os parabéns: "Por mim já passaram Humberto Vasconcelos, Pedro Fino, Pedro Ramos ou Susana Prada”. Ontem, em São Martinho, juntaram-se à ocasião o secretário da Saúde, a secretária da Inclusão e do Turismo e Cultura.
Será desta? Se depender do apoio político de Manuel Salustino dificilmente o actual líder do PSD-M irá, uma vez que faz parte da lista de apoiantes de Manuel António Correia, adversário de Albuquerque.
O DIÁRIO chegou a falar com o coordenador da Anafre mas Celso Bettencourt alegou ter essa posição no seio das freguesias para não querer comentar o critério seguido pelo presidente do Governo.