Crónica de umas eleições anunciadas
Madeira vai perder tempo precioso, mas a democracia exige clarificação nas urnas
Para quem preza a estabilidade e a resolução de problemas este não é efectivamente o momento. Mas para quem preza a liberdade, aquela que foi conquistada a 25 de Abril de 1974, este é o momento da clarificação, da verdade democrática e da mobilização cívica, apesar de estarmos cansados da permanente campanha eleitoral e de todos os excessos cometidos por um coro de políticos que valoriza mais o ‘soundite’, o vídeo para o Tik Tok e a táctica rasteira para chegar ao poder do que a discussão livre, madura e realista dos assuntos que nos preocupam e que interferem na vida da sociedade.
A decisão do Presidente da República de dissolver o parlamento regional é só mais uma pedra na engrenagem de um tempo atípico na política portuguesa, envolta numa bizarria sórdida, em parte por culpa do próprio Chefe de Estado. Marcelo não tem emenda, como se viu no triste espectáculo oferecido em directo e a cores na última quarta-feira e que teve como palco o Palácio de Belém. A procissão de políticos madeirenses a Lisboa era evitável e o Conselho de Estado bem poderia ter sido por vídeoconferência. A decisão de detonar a ‘bomba atómica’ no parlamento da Madeira estava tomada desde 24 de Janeiro. O DIÁRIO disse-o ao início da tarde daquela cómica quarta-feira e Paulo Cafôfo fez questão de formalizar publicamente o anúncio ao País e ao Mundo após o encontro presidencial, rompendo com a elementar regra do sigilo das audiências com o Presidente. Não bastasse a bazófia, o líder socialista vangloriou-se pela “vitória” alcançada junto de Marcelo. Um excesso eufórico sem base de clarividência. Cafôfo, que não tem o partido unido, lança-se na derradeira etapa da causa da sua vida política nas eleições de 26 de Maio, sem margem para falhar. Tem de recuperar os milhares de votos perdidos nas Legislativas nacionais (muitos depositados no Chega), onde nem 20% conseguiu alcançar. E, missão das missões, tem de unir um partido fragmentado, com posições diferentes para os mesmos problemas. Será capaz de juntar o que tem separado até agora? O tempo é curto e o eleitorado impiedoso com tricas e arrufos políticos.
Já o PSD apresenta-se sozinho e fragilizado. Miguel Albuquerque, arguido num processo judicial, tem a maioria do partido consigo, mas não tem a esmagadora maioria dos militantes que tornava a máquina laranja um poderoso instrumento de angariação de votos. Como se viu pelo resultado das eleições internas, Albuquerque vai penar para ganhar as eleições com a dificuldade acrescida de ter as portas do Chega fechadas a hipotéticos entendimentos pós-eleitorais. A receita do ano passado, que juntava CDS e PAN, dificilmente será reeditada. Depois, tanto André Ventura como Miguel Castro já juraram por diversas vezes que com Albuquerque não há entendimento possível. Não menos importante é também a existência de uma oposição interna com rosto. Manuel António anda por aí e deu garantias de que não vai ficar calado, como aconteceu nos últimos dez anos.
Os ziguezagues de Albuquerque ditaram-lhe o futuro e nem os bons indicadores económicos o conseguiram salvar.
Pela frente há pouco mais de um mês. Sejam céleres na apresentação de propostas válidas e realistas, excluam a demagogia das promessas eleitorais e não percam tempo com jogos que afastam a população das urnas.
O futuro da Madeira merece elevação.