O bom, o mau e o futuro
O bom: PSD e as internas
Fique descansado. Esta crónica não é um comício partidário. Todavia, nos tempos que correm, é sempre surpreendente o interesse e a participação que as eleições no PSD suscitam. É bom sinal. Quanto mais dura for a luta pela liderança partidária, mais interessante será o projeto político que daí sair vencedor. Basta recuar às eleições do PSD, em 2014, para relembrar que, do confronto entre 6 candidaturas, não resultou um partido desfeito, mas uma maioria absoluta no parlamento.
Por sinal, a última. Já dizia Albuquerque, num partido onde todos pensam a mesma coisa, ninguém pensa grande coisa. Tinha, e tem, toda a razão. Ao contrário de Saddam Cafôfo, que se gabou de ter conquistado 99% dos votos na eleição interna do PS. Embora sejam estruturas assentes na unidade, os partidos definham no conforto da unanimidade, porque perdem alcance junto da sociedade, deixam de conseguir renovar os seus quadros e alheiam-se, cada vez mais, da vida real. Não tenhamos, no entanto, ilusões. Depois de uma disputa interna, como a que opôs Albuquerque a Manuel António, há um caminho difícil a percorrer. É preciso saber ganhar, mas também é preciso saber perder. Aos que ganharam, exige-se humildade na vitória, abertura às ideias do adversário e cuidado para não cair em “caças às bruxas”. Uma coisa é a óbvia e inevitável perda de confiança política, outra é o delito de opinião, que julgo afastado da prática do PSD. Aos que perderam, não se pede que mudem de opinião, mas que tenham noção que os partidos não são clubes de fãs de lideranças, fielmente à espera da próxima oportunidade. Vencedores e vencidos não são um problema para o PSD. A mim, preocupam-me mais os neutros. Orgulhosamente eunucos na disputa eleitoral. Das duas uma: ou não pensam grande coisa, ou esperaram pelo resultado final para decidir o que seria mais conveniente pensar. Venha o diabo e escolha.
O mau: Eleição do Presidente da Assembleia
No rescaldo da eleição de Aguiar Branco, André Ventura tinha razão. O PSD escolheu o PS e os socialistas escolheram o PSD. Ainda bem que assim foi. Não é prenúncio da entrega da liderança da oposição ao Chega, não é um acordo para a distribuição de lugares, nem é, sequer, o ensaio para uma governação do bloco central. É apenas a constatação de que, nas questões centrais do regime democrático, os dois partidos mais votados podem, se calhar devem, entender-se. Haverá questão de regime maior do que a eleição da 2.ª figura do Estado? Não creio. Tudo o resto é a demonstração do calibre de Ventura. Mentiu sobre a existência de um acordo, voltou a mentir sobre a orientação de voto dos seus deputados e acabou a criticar a distribuição de lugares em que o seu partido também participaria, com a eleição de Pacheco de Amorim. Aliás, todo o dispensável enredo em torno da eleição do Presidente da Assembleia assenta num pressuposto absurdo. De que era preciso um acordo para que os deputados escolhessem um candidato a presidente. A prova de que não era, é que ninguém, nem sequer o Chega - partido que mais gritou por um acordo -, colocou objeções ao nome de Aguiar Branco. Em boa verdade, o problema nunca foi o candidato do PSD, mas a necessidade de Ventura mostrar que, no limite, está disponível para juntar-se ao PS e formar uma maioria absoluta negativa. Não sei se o voltará a fazer tão cedo, nem sequer se o fará muitas vezes ao longo da legislatura, mas a irresponsabilidade de Ventura serviu para lembrar ao País que o governo só cai com o empurrão conjunto do PS e do Chega. Veremos quem empurra primeiro.
O futuro: Eleições antecipadas
Há encenações políticas dispensáveis. Ouvir os partidos na Madeira, voltar a ouvi-los, semanas depois, em Lisboa, e acabar a dissolver a Assembleia através de um lacónico comunicado. É o cúmulo do ridículo presidencial. Acertada ou não, a decisão de Marcelo não surpreende. Aliás, os rumores lançados por Belém sobre a intenção dissolutiva provam que as audições partidárias serviram para pouco mais do que uma selfie com o Presidente. Apesar dos sucessivos desafios da maioria a três partidos, especialmente na última semana, Marcelo não dissolveu a Assembleia por falta de condições de governabilidade. Fê-lo porque não quis ser politicamente responsável por um governo regional que não teria a vida facilitada. O Presidente da República decidiu pela dissolução a pensar, principalmente, em si. O mais grave é que nem deu a cara por essa decisão. Convocadas eleições, não vale a pena, especialmente ao PSD, chorar sobre leite derramado. É aos sociais democratas que cabe o maior desafio a 26 de Maio – ganhar e garantir condições de governabilidade. Para isso, não basta ao PSD levar uma liderança com legitimidade renovada a congresso, é preciso apresentar um projeto político que mobilize o partido e que volte a inspirar os madeirenses. Para consegui-lo, Miguel Albuquerque tem de responder a três desafios. Voltar a fazer da Assembleia Legislativa o palco central do debate político, até porque, a improbabilidade de uma maioria absoluta, exigirá redobrado trabalho parlamentar e uma equipa de combate político. Repensar a forma como o partido se organiza e se faz representar no Funchal. Basta olhar com atenção para os resultados nas eleições internas. E, por fim, talvez o mais importante: reaproximar o partido dos mais jovens, como fez em 2014, e chamá-los para a linha da frente. Não é uma tarefa fácil, mas é possível. Basta querer.