Governo grego supera moção de censura devido a acidente ferroviário com 57 mortes
O Governo grego de direita, liderado por Kyriakos Mitsotakis, superou hoje a moção de censura apresentada pela oposição, que o acusa de esconder responsabilidades políticas no desastre ferroviário de 2023, que causou 57 mortos.
A moção, que exigia uma maioria absoluta de 151 votos, foi rejeitada pelos 158 deputados do partido Nova Democracia de Mitsotakis e pelo voto de um deputado independente, enquanto toda a oposição, liderada pelo principal partido de esquerda Syriza, votou a favor.
A rejeição da moção de censura não estava em causa, porque o partido Nova Democracia detém maioria absoluta no parlamento de câmara única.
Em 28 de fevereiro de 2023, pouco antes da meia-noite, um comboio de passageiros colidiu frontalmente com um comboio de carga perto de Larisa, acidente que causou a morte a 57 pessoas, a maioria jovens.
O Governo de Mitsotakis foi acusado de uma gestão desastrosa do acidente que chocou todo o país, apesar do primeiro-ministro ter garantido que "nunca houve uma ordem para ocultar" responsabilidades políticas.
Neste acidente, que descreveu recentemente como um "trauma nacional", as "falhas crónicas do Estado encontraram o erro humano", sublinhou, garantindo que quis dizer a verdade face a uma "sociedade desconfiada e revoltada".
Pouco antes da votação, dezenas de manifestantes reuniram-se em frente ao parlamento, exibindo nomeadamente uma grande faixa preta onde estava escrito: "Não esquecemos nada -- Exigimos justiça".
Durante dois dias, e quase duas noites inteiras, de debates acirrados, acusações de negligência e ações criminosas foram levantadas contra o Governo.
"Recusamo-nos a aceitar a persistência da corrupção, do encobrimento e da impunidade", sublinhou o líder do Pasok, Nikos Androulakis.
"Noventa por cento da sociedade já não acredita em vós e já não confia em vós, foi a sociedade que nos trouxe aqui hoje", assegurou o líder do grupo parlamentar do Syriza, Socratis Famellos, classificando como crime este acidente de comboio.
A apresentação desta moção de censura na terça-feira surgiu após revelações do jornal To Vima alegando que as gravações das conversas entre o gestor da estação e os maquinistas na noite do acidente foram manipuladas para apoiar a tese do erro humano.
Kyriakos Mitsotakis considerou o artigo enganoso: "Vocês não têm vergonha de insinuar [que essas conversas foram editadas]?"
Esta colisão frontal entre um comboio de passageiros e um comboio de mercadorias pôs em evidência "as falhas inaceitáveis na segurança dos caminhos-de-ferro gregos", de acordo com o texto da moção de censura, e em particular os atrasos consideráveis sofridos pela Grécia na modernização do seus sistemas de sinalização.
"À oligarquia criminosa (...) juntou-se uma tentativa igualmente criminosa e metódica de encobrir o caso", prossegue o texto que critica também o antigo ministro dos Transportes, Kostas Karamanlis, que se demitiu no dia seguinte ao desastre.
Falando no parlamento, este último, também deputado, garantiu: "se alguém tiver acusações reais contra mim com provas, (...) que as traga".
Há meses que o coletivo de famílias das vítimas exige o levantamento da imunidade parlamentar de Karamanlis e do seu antecessor de esquerda, Christos Spirtzis.
Mais de 30 funcionários ferroviários foram acusados até agora neste caso, mas nenhuma figura de alto escalão.
O gestor da estação de Larissa, a cidade mais próxima do acidente, a cerca de 300 quilómetros a noroeste de Atenas, está em prisão preventiva por "homicídio negligente".
A colisão provocou uma onda de indignação entre os gregos que saíram massivamente às ruas.