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Bloco Central

Embora não esteja absolutamente convicto que o Bloco Central (BC) seja a melhor solução para a crise que Portugal irá enfrentar nos próximos tempos com um governo de minoria, acho que seria a mais viável para travar o avanço da extrema direita e do populista André Ventura. Comemorar meio século da revolução de abril com um partido xenófobo a impor a sua vontade no Parlamento, depois de tanto que custou conquistar a liberdade, seria um retrocesso nos direitos e garantias do povo português. Fascismo jamais! Ventura quer aproveitar a onda dos insatisfeitos para chegar ao governo porque sabe que o populismo não dura muito e irá acalmar brevemente tal como aconteceu com Marinho Pinto e José Manuel Coelho, uma vez que os descontes que votaram neles, compreenderão que medidas radicais são apenas delírios dos arruaceiros.

Para já é provável que Luís Montenegro se aguente até ao fim do ano uma vez que já tem Orçamento aprovado para 2024 e se houver O. Retificativo, o PS não criará obstáculos pelo que tudo indica que será aprovado. Para o próximo orçamento de 2025, e futuros, AD e PS deveriam usar a mesma estratégia e depois de quatro anos os insatisfeitos com o regime esqueceriam o Chega e os portugueses teriam oportunidade de avaliar as promessas de Montenegro. Se o PS fizer uma oposição firme, séria mas tolerante o povo terá oportunidade de saber qual a diferença entre direita e esquerda democrática. Resta apenas saber se Montenegro irá cumprir a promessa “não é não”.

Já publiquei, mais que uma vez, que António Costa foi dos melhores 1º ministro que Portugal conheceu, porém, precipitou-se ao demitir-se pensando na sua própria imagem e sem pensar no bem estar do país já que o PS era detentor de uma maioria absoluta que daria estabilidade a Portugal. Marcelo seguiu o mesmo caminho porque já há muito queria virar o país à direita. Agora não adianta “chorar o leite derramado” e, quanto a mim, já que estamos numa fase de tudo ou nada, o PS deveria optar por uma estratégia diferente e viabilizar o Governo da AD para ver até onde iriam nas várias promessas que fizeram ao eleitorado, quer ao nível da corrupção, da melhoria e morosidade da justiça, da saúde, do ensino, dos custos da habitação, do controlo do capitalismo selvagem, da localização do aeroporto, da melhoria dos salários e pensões de reforma, da especulação e do custo de vida que está a tornar-se insuportável para a grande maioria dos portugueses. Há! Ainda é possível acabar com as greves já que o ex-bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, foi cabeça de lista da AD pelo Porto, assim como Rita Cavaco do PSD, ex- bastonária da Ordem dos Enfermeiros que por coincidência está a ser acusada de peculato e falsificação junto com Luís Barreira, atual bastonário da mesma Ordem. As greves dos professores terão fim, assim como da PSP e Portugal será um país próspero. Se conseguirem acabar com tudo o que criticavam ao Costa, terão o meu beneplácito e aplauso ao fim dos quatro anos. A Madeira, com a AD no Governo e com os 3 deputados da Região a fazer a diferença na maioria parlamentar terá, finalmente, resolvidos o problema do subsídio dos transportes onde os madeirenses pagarão apenas 86€, do tão badalado Ferry e virá ainda dinheiro a rodos para o novo hospital. Deixem a AD governar e os portugueses verão que “o algodão não engana”. Se, por outro lado, Montenegro ceder à chantagem do Ventura para governar, então, deveria dar-lhe, por exemplo, o Ministério da Justiça e o da Emigração para os portugueses descontentes que votaram na prosápia do “promessas” pudessem, no fim, avaliar o que faria ele se estivesse no Governo. Aliás, os mais atentos já começam a compreender que “o radical” já começa a mostrar a sua estirpe quando, na campanha, afirmou que nunca se aliaria com o PS nem com a AD mas agora que lhe cheirou a poder, esquece as promessas e já anda a implorar lugar no Governo porque, no fundo, é um troca-tintas rodeado de incompetentes, recrutados à pressa para formar listas, mesmo indiciados de corrupção. Deixem-nos governar e o povo terá a prova que apontar os defeitos é fácil, resolvê-los é mais difícil.

Por cá nem um terramoto emperra a velha máquina do PSD-M que continua bem oleada a fazer estragos tanto para eleições internas como externas. Haja corruptos, arrogantes, ameaças, promessas de demissão ou atropelos à democracia, a verdade é que o povo aceita tudo por falta de memória ou iliteracia política. Com que ideia ficarão os nossos jovens depois de ver tanta mentira e impunidade na política? Leva-me a citar George Orwell «Um povo que elege corruptos, impostores e ladrões não é vítima… é cúmplice».

PS. O impasse para eleição do presidente da Assembleia ilustra bem a pertinência deste artigo.

Feliz Páscoa para o DN, colaboradores e seus leitores.