‘Francelho’ coloca à prova capacidade de resposta ao nível superior
Exercício militar avalia comando e Estado-maior do batalhão de infantaria
O Regimento de Guarnição nº3 (RG3) da Zona Militar da Madeira (ZMM) promove na próxima semana o exercício ‘Francelho’, que vai mobilizar o batalhão de infantaria desta unidade. Trata-se de uma operação de treino para avaliar a resposta ao nível superior.
O ‘Francelho’ simula uma operação militar convencional que se assemelha ao que se está a passar na Ucrânia e destina-se a avaliar a capacidade de comando e controlo do comando e Estado-maior do batalhão de infantaria do RG3. Vai treinar os oficiais, sargentos e praças desta unidade operacional na condução de uma operação militar. “Têm de ser capazes de perceber o que a força opositora está a realizar para os derrotar”, revela o coronel tirocinado Miguel Freire, segundo comandante da ZMM.
O exercício decorre ao longo de quatro dias, de segunda a quinta-feira, vai envolver mais de meia centena de pessoas. O cenário, de um combate de grande envergadura, tem por base uma situação de conflitualidade entre dois Estados próximos ou parecidos. A ofensiva é em simulador, um jogo comercial, um ‘serious game’, feito propositadamente com o objectivo de treinar comandantes e Estados-maiores, explica Miguel Freire. Embora conotados com a ideia de ‘jogo’, os ‘serious games’ são construídos com propósitos educativos explícitos e cuidadosamente elaborados, sublinha a ZMM.
Antes desta fase, o ‘Francelho’ incluiu já uma preparação, em que o batalhão recebeu uma ordem da brigada que lhe disse a data, contexto e situação em que teria a operação ofensiva contra o inimigo.
Os movimentos do inimigo serão geridos pela estrutura que organizou o exercício, tendo à frente o próprio coronel tirocinado. “A vantagem disto é que não estão a seguir um guião, estão a combater um inimigo, que neste caso sabe qual é o objectivo do exercício e por isso condiciona para que o objectivo do exercício, que é o treino, possa ser alcançado”, destacou Miguel Freire.
O ‘Francelho’ tem a particularidade de pela primeira vez integrar o Battlefield Management System (sistema de gestão de campo de batalha) um sistema que o Exército está a implementar para digitalização todo o processo de comando e controlo das operações militares. Permite ao comando e Estado-maior do batalhão de infantaria ter a visualização do estado e localização das forças em tempo real.
Entre segunda e quinta-feira o posto de comando estará no RG3. As unidades estarão em simulação na Unidade de Apoio e vão informar via rádio os decisores sobre o desenvolvimento da ofensiva. A simulação inclui os meios de comunicação como num cenário real.
Depois de realizado o exercício de simulação haverá uma análise de desempenho e um relatório. “Fazemos o que chamamos a análise pós-acção, auxiliados pelo filme da operação”. Os dados estatísticos ficam disponíveis. Quantas viaturas foram destruídas, quantas pessoas morreram estão entre esses números, que ajudam a perceber o que falhou e o que correu bem.
“Na simulação não temos limitações de meios mas nós só aplicamos aquilo que faz sentido, aquilo que está de acordo com os nossos meios militares”, esclarece o coronel tirocinado. “Não vamos dar viaturas nem unidades que não temos. Combatemos, fazemos a simulação com aquilo que são as unidades do Exército português”.
Usar simulações e jogos faz cada vez mais sentido sobretudo porque Portugal e o Exército não têm capacidade para realizar exercícios reais. “Os meios envolvidos eram brutais. Nós simulamos tudo, helicópteros, aviões, campos de minas. Colocar o Estado-maior numa situação real destas, só mesmo o exército americano é que consegue fazer. Os países mais pequenos têm de se socorrer cada vez mais destes sistemas de simulação”.
O militar explica que nem têm de ser sistemas de simulação muito complexos. Têm é que estar bem direcionados e serem suficientes para permitir ao decisores e a quem aplica a ordem, implementar, validar e pôr em prova o que foi delineado ao nível da estratégia.