3 erros, 3 virtudes
Numa serena manhã de sábado, a 29 junho de 2019, enquanto começava o dia com um café, abro o mail e tomo conhecimento das declarações do líder do CDS, Rui Barreto, de que “Está próximo do PSD”. Na primeira página do JM, o destaque é total, a profundidade da mensagem também, em especial por ainda faltarem três meses para as eleições e nenhuma mudança na governação tenha sido aceite pelo PSD. A decisão foi pessoal, e um líder tem legitimidade de a proferir, apesar de que ela não tenha sido aprovada pelo partido e vir a ter depois inúmeras consequências.
Agora, cinco anos depois, é tempo de analisar e tirar as necessárias conclusões. E por mais que se desdenhe, uma coisa merece ser reconhecida. A participação na governação foi competente, houve empenho, seja na economia, nas pescas e na fiscalização.
No entanto, permitam-me identificar 3 erros evidentes. O primeiro, muito evidente, é a perda de identidade do partido. E a pergunta que naturalmente se coloca é, o que separa o CDS de Rui Barreto do PSD de Miguel Albuquerque? Certamente não muito, o que fez com que os eleitores se afastassem do partido, como as sondagens manifestam.
Em segundo, em continuidade, perdeu-se a vida interna, a capacidade de debate, de saber ouvir, o empenho no estudo de soluções, a procura de ideias, elaborar propostas para os problemas.
O terceiro, o pior, foi esquecer as “bandeiras” do partido, as ideias que prometemos aos eleitores. A prioridade nas questões sociais da democracia-cristã, uma maior concorrência na economia, sem coartar o mérito individual. Priorizar aos madeirenses melhores salários e, muito importante, sem esquecer melhores condições de trabalho. Conseguir o Ferry e melhores acessibilidades ao arquipélago. Mais grave, para um pensamento de centro-direita, com vinco liberal, como compreender que depois do esforço da pandemia tenhamos na região o maior castigo fiscal de sempre?
Creio que é preciso dizer o que tem de ser dito e assumi-lo com frontalidade. Porquê? Porque para que sejamos novamente credíveis temos que ser genuínos e honestos. Creio que esse é o único caminho.
E quais são as 3 virtudes que acompanham os defeitos? Em primeiro lugar acontecerá uma grande mudança geracional, existem muitos jovens cheios de garra, dinâmicos, insubmissos, competentes, com coragem e que tem de ser acarinhados, estimulados. A vida é feita de ciclos e há que os aceitar por mais que doam.
Segundo, sabemos dar o exemplo. José Manuel Rodrigues, por mais que doa a alguns, inclusive aos “bobos da corte”, foi um excelente Presidente da Assembleia. Acabaram os escândalos, as “cenas” que nos envergonham, passou a ser uma Casa de cultura, de debate, de moderação, de acordos entre os diferentes partidos. Ganhou-se uma credibilidade inédita na política madeirense, reconhecida até fora da Madeira. E só o não foi mais pois José Manuel não era o líder do partido e tinha balizas que não poderia ultrapassar, por mais que o quisesse.
Em continuidade, deixo um pensamento final: Para que serve na verdade um deputado? Para fazer muito barulho? Para votar sempre contra? Para ridicularizar outros e uma parte da sociedade. Para radicalizar o discurso? Para nunca chegar a compromissos? Um partido ao centro como o CDS pode fazer as pontes necessárias para que as medidas e os investimentos aconteçam, para que a fiscalização seja eficaz, para que a Madeira cresça em harmonia, com consensos alargados, como o exemplo do Novo Hospital nos orgulha. Creio.