ONU adverte para possível tortura de suspeitos de atentado em Moscovo
A relatora da ONU para os direitos humanos na Rússia, Mariana Katzarova, e o seu homólogo na luta contra o terrorismo, Ben Saul, manifestaram hoje preocupação com a possível tortura de suspeitos do ataque terrorista nos arredores de Moscovo.
"Alguns dos suspeitos parecem ter sido gravemente maltratados sob custódia e a Rússia deve investigar alegações de tortura e tratamento cruel, desumano ou degradante", disseram os dois responsáveis em comunicado, no qual também condenaram o ataque de sexta-feira na sala de espetáculos Crocus nos arredores de Moscovo, onde pelo menos 137 pessoas morreram e 182 ficaram feridas.
Segundo alertam no comunicado, "a tortura põe em risco a garantia de um julgamento justo e frustra a obtenção de justiça pelas vítimas do terrorismo".
Mariana Katzarova e Ben Saul acrescentaram que todos os suspeitos têm o direito a ser julgados por um tribunal independente e imparcial e de serem tratados com humanidade durante a sua detenção.
Salientaram também que a Rússia deve investigar se as autoridades tomaram "todas as medidas necessárias" para evitar o ataque terrorista, entretanto reivindicado pelo grupo Estado Islâmico, caso tenham recebido anteriormente provas credíveis de que tal ação iria ocorrer iminentemente.
O comunicado frisa que o ataque deve ser investigado "de acordo com o direito internacional, processando os seus autores e aqueles que o ordenaram, a fim de garantir justiça às vítimas".
O Presidente russo, Vladimir Putin, atribuiu hoje o ataque terrorista numa sala de espetáculos em Moscovo a "radicais islâmicos", mas voltou a fazer uma ligação à Ucrânia, alegando que os atacantes procuravam fugir para o país vizinho.
"É importante responder à questão: por que motivo os terroristas, depois do seu crime, tentaram partir para a Ucrânia? Quem os esperava lá?", perguntou o Presidente russo numa reunião do Governo, acrescentando: "Sabemos quem cometeu esta atrocidade contra a Rússia e o seu povo. O que nos interessa é quem ordenou isso".
As autoridades da Ucrânia, país invadido pela Rússia em fevereiro de 2022, afastaram qualquer envolvimento.
As forças de segurança russas detiveram 11 pessoas supostamente ligadas ao ataque na sala de espetáculos Crocus.
Quatro homens, identificados na imprensa russa como cidadãos tajiques, foram acusados por um tribunal de Moscovo na noite de domingo de realizar o ataque terrorista.
Perante o tribunal, mostraram sinais de terem sido severamente espancados, e dois terão assumido a sua culpa, embora as suas condições levantassem questões sobre eventual exercício de coação.
O primeiro-ministro da Rússia, Mikhail Mishustin, disse que a investigação ainda está em andamento, mas prometeu que "os autores serão punidos" e "não merecem misericórdia", enquanto o ex-Presidente Dmitri Medvedev, agora vice-chefe do Conselho de Segurança, instou as autoridades a "matar todos os responsáveis", embora incorram num máximo de pena perpétua.
As operações de buscas continuarão pelo menos até a tarde de terça-feira, segundo as autoridades.