50 anos para isto?
Este ano comemoram-se os 50 anos do 25 de abril. Creio que não poderíamos ter imaginado pior cenário político para esta celebração.
Se há 50 anos, o país colocou ponto final numa ditadura fascista de décadas, saindo à rua para celebrar um Portugal unido contra a ditadura, 50 anos depois andamos a deixar entrar novos fascismos pela porta da frente da nossa democracia. Usamos essa grande arma que é a liberdade de escolher e de votar para sentar à mesa da nossa liberdade ideologias que não deveriam ter lugar, nem espaço num país democrático.
Mais chocante ainda é ver partidos e responsáveis políticos afirmarem que essas ideologias são válidas, e alguns até vão mais longe afirmando que partidos como o Chega são um “ator imprescindível no quadro político”.
Mas, afinal, nada disto me deveria surpreender, porque o surgimento de partidos como o Chega são o resultado do falhanço dos partidos tradicionais, cada vez mais distantes do sentir da população, cada vez mais enredados nos seus próprios interesses, cada vez mais prisioneiros das estratégias pessoais de poder. São todos eles os pais biológicos dos extremismos, e como pais estão dispostos a acolher esses novos fascistas desde que sirvam de garantia para a sobrevivência política de líderes em declínio e em desgraça.
Cabe-nos a nós, povo deste país e desta Região, estarmos mais atentos, não nos deixarmos iludir por discursos radicais, por ideologias de ódio e de segregação, por promessas falsas e ocas, por gente que apenas viu na desgraça do país e na descrença nos políticos um espaço para cultivar o seu próprio projeto de poder. Estes novos fascistas não são mais do que filhos naturais dos velhos partidos tradicionais, e preparam-se para, com eles, manter tudo na mesma e manter sobretudo uma política que coloca os interesses dos partidos e dos seus líderes acima dos interesses legítimos do país e da população.
50 anos depois de abril, temos de estar novamente atentos. A liberdade, e todos os valores a ela associados, são, como vemos, coisas frágeis. Num cenário em que muita da nossa população não se sente ouvida e não vê, sobretudo, os seus direitos defendidos, o discurso extremista e de ódio espalha-se e é acolhido sem rede.
Por isso, temos de nos erguer acima dos instintos primários e estarmos novamente à altura das conquistas de abril, do legado que nos foi deixado por todos os que lutaram pela liberdade, porque sem ela tudo ficará ainda pior.