Porque não fala Paulo Cafôfo?
Por onde anda Paulo Cafôfo? Alguém sabe onde está? Se está numa das suas viagens intermináveis pelas comunidades (com o sucesso que se sabe) ou se está no seu gabinete em Lisboa, a fazer as últimas limpezas? Se está na sede do PS Madeira, se está em Lisboa a preparar a sua ida para a Assembleia da República?
É um mistério! Um líder que diz querer ser presidente da Madeira está há mais de dez dias calado, sem dar qualquer sinal de si.
Ou melhor, se pensarmos bem não é mistério algum: a tática é simples, tentar passar “entre os pingos da chuva” após mais uma derrota e esperar que os tempos melhorem. Porque as desculpas de “mau pagador” (como aquela de dizer que o resultado do PS na Madeira tinha sido condicionado pelo PS nacional, quando o PS nacional teve melhor resultado do que o PS cá!) não “pegaram”.
Esta fuga não é novidade em Paulo Cafôfo: fugiu da CMF (abandonando os munícipes a quem tinha feito juras de amor), fugiu da Assembleia Legislativa da Madeira (depois de ter dito que iria voltar à escola e ter feito pirueta, acabou mesmo por sair do parlamento madeirense (escapando aos madeirenses que jurara proteger), fugiu do Governo da República (mal sentiu que as coisas estavam perigosas saiu logo pela borda fora do navio a afundar em que o Executivo de Costa se tornara e deixando para trás, as palavras são suas, a missão da sua vida).
Agora, a missão da sua vida é a Madeira. Se for como as outras vezes estamos já a ver no que vai dar…
O princípio é sempre o mesmo: procurar, junto com o seu aliado de sempre, se manter à tona, agarrando-se à bóia, sem se preocupar com os seus camaradas que ao lado se tentam salvar.
Mas, o seu silêncio não é só pela derrota de 10 de março. É também pela derrota de 20 de março, a que retirou Santos Silva do parlamento nacional e colocou os socialistas com apenas um deputado eleito pelos círculos da emigração.
Paulo Cafôfo está também calado para que ninguém se recorde de que foi ele o responsável pelas Comunidades, logo a cara socialista do descalabro.
Paulo Cafôfo está calado para que ninguém se lembre que ele tem sido um dos melhores aliados do Chega, ajudando aos resultados deste último partido: na República, na Madeira e também nas Comunidades.
O líder socialista madeirense “soma e segue” nas derrotas. Por isso, tem “à perna” uma oposição interna sequiosa do ajuste de contas, que até pode não esperar por maio para aparecer em força. Por enquanto dizendo que está viva.
Eu, no lugar de Paulo Cafôfo também não falaria, não apareceria. Assim, pode ser que se esqueçam dele por uns tempos… E ele bem precisa!
O trabalho do ainda Secretário de Estado das Comunidades do último governo Costa foi tão proficiente que resultou na perda de dois dos três mandatos que o PS tinha nos círculos da emigração. O corolário é o próprio Presidente da AR perder o mandato, uma ironia suave, para o Chega, um inimigo figadal. Como diz o povo, quem ri por último, ri melhor.
Entretanto, já sei que vão dizer que a conjuntura iliba o homem que nunca tem responsabilidade sobre nada. Mas há que ter cuidado com as palavras, precisamente para não se ficar prisioneiro delas. Na realidade, se eram verdadeiras as tais notícias sobre o presente e o futuro risonhos das nossas comunidades – condições dos consulados, recursos humanos, aumentos salariais, apoios sociais, ensino do português, proximidade, distribuição de computadores, festas, arraiais, devaneios, aviões e afins – os portugueses da diáspora foram bem ingratos no momento do voto. Ou isso, ou estamos perante mais uma lição de vida gratuita porque alguém se atreveu pensar ser suficiente “criar”, “inventar”, “soprar” ou “difundir” notícias, sem qualquer contraditório, para se obter um bom efeito e passar-se por bom governante. Enganou, primeiro. Foi enganado, depois.
Quanto ao resto, a perda de votos do PS na dita diáspora assume uma progressão de sentido negativo consequência da tentativa simultânea do indivíduo em ser ubíquo, curandeiro e acumulador de pontos e milhas. Quantos mais quilómetros ele fez, mais votos ele perdeu.
Presumo que, novamente, ele vá tentar fingir que a derrocada no exterior também não é nada com ele. Na posição dele, eu fazia o mesmo e, “en passant”, aproveitava, punha-me a milhas e, literalmente, ao fresco. Lisboa é longe e é um bom lugar. E é suficiente mudar a morada de casa e, mais uma vez, a “causa” que move. Num mundo de segundas e tantas oportunidades, não há duas sem três.
Ângelo Silva