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A intolerância ganhou palco

Passado o dia 10 de março e feitas as reflexões sobre os resultados eleitorais, partilho alguns pensamentos sobre as escolhas de uma grande parte dos portugueses aqui e além fronteiras.

Confesso que fico surpreendida, à medida que se vai conhecendo o perfil dos novos deputados, com o número de eleitos pelo Chega envolvidos em casos judiciais, com condenações inclusive. Não são suspeitos ou indiciados. Foram julgados e condenados. Ah, mas não foram condenados por corrupção. Isso sim é um crime hediondo. O que é isso, comparado com casos de violência doméstica, atos racistas, xenófobos e homofóbicos.

Um partido constituído por “anjos e santos”, gente de um mundo imaculado, de outra estirpe não deveria ter, nas suas hostes, condenados e defensores de políticas desumanas. E o desplante com que vociferam contra o sistema, com o credo na boca. E a incoerência e egoísmo que se observa em alguns dos deputados, como aquele que foi eleito pelo círculo da Europa. Apesar de ter sido emigrante ilegal em França e ter obtido a autorização de residência pela mão do socialista, Mitterrand, está num partido que discorda que os imigrantes ilegais regularizem a sua situação em 5 anos.

Preocupante mesmo, é constatar a persistência do pensamento racista e xenófobo que, pelos vistos, grassa no nosso país, que agora tem uma caixa de ressonância, e perceber a fragilidade da Democracia. Segundo um estudo realizado pelo European Social Survey de 2018/2019, apenas 11% dos portugueses questionados discordavam de todas as ideias racistas. A verdade é que Ventura expressa, em alta voz, não só as frustrações dos cidadãos, mas também os pensamentos preconceituosos e de ódio enraizados na nossa memória coletiva. E, sendo assumido e normalizado esse discurso, aumenta-se a validade do mesmo. Compreende-se muito bem porque é que o discurso populista e de intolerância de Alberto João Jardim colou tão bem, nos tempos da sua governação.

Mas será que não são óbvios os benefícios da Democracia, comparativamente a um regime autoritário ou autocrático? A curta História da democracia não é eloquente o bastante para não prescindimos dela?

Nem o bom jornalismo é suficiente para assegurar a manutenção da Democracia, porque agora há outros meios de divulgação da informação mais acessíveis e de fácil disseminação.

Que há muita coisa revoltante e por resolver no país, não há dúvida. Mas achar que é com discursos de ódio que se melhora o país, é muita inconsciência.