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Análise

Ligados às máquinas

Para os que têm memória curta e mau perder, importa lembrar que quem da política partidária costuma ter uma visão solidária geralmente desta não precisa para viver ou sobreviver, seja na ficcionada bolha social, nas redes dominadas pelo ódio ou na selva mediática, por sinal, a mais próxima da realidade.

Ora quem padece do drama de não ter alternativa de vida, nem percepção clara dos timings recomendados para a saída airosa de cena, passa os dias entretido a atentar contra a normalidade democrática, a debitar convicções como se não houvesse amanhã, e, pior, a esforçar-se por depurar o passado, como evidenciou o revisionista de serviço com amnésia selectiva em matéria de chantagens e ameaças ou todos quantos, em diversas frentes, revelaram incoerências incontornáveis no capítulo da unidade.

Com esta postura, os viciados no entretenimento político em nada ajudam na renovação elementar do sistema em que as ideologias faliram e os partidos mais não são do que ferramentas, de preferência utilitárias, para que determinados objectivos sejam alcançados. Assim, numa era em que é cada vez mais difícil à sociedade recrutar políticos competentes, porque paga mal a quem tem que decidir com responsabilidade, actuar com transparência e lidar com pressões medonhas, importa acarinhar os que ousam enfrentar as tribos acomodadas à rotatividade decretada, os que fazem carreira como profissionais da política, à conta das licenças na função pública ou na vida académica, ou os que se julgam inquestionáveis.

Neste contexto, fica difícil perceber comportamentos que configuram dificuldade em liderar, unir e seguir em frente. Basta olhar o que se passou na última semana nos dois maiores partidos locais.

O PS-M mantém-se igual a si próprio, mesmo que alguns revelem uma saudável apetência por superar o que correu mal nas Legislativas. É que os resultados na Madeira não são só obra da má governação nacional. Tal como o facto de Santos Silva não ter sido eleito no círculo fora da Europa não será de certeza culpa da governação das comunidades, cujo secretário de Estado ainda é Paulo Cafôfo.

Os críticos manifestaram-se chocados com o resultado e pediram uma reflexão inclusiva, plural e livre, num movimento onde todos contam. A ‘Autonomia 24’ será delinquente só por afirmar-se como uma corrente de opinião? Carlos Pereira, Miguel Silva Gouveia e Liliana Rodrigues e os restantes 9 fundadores, bem com os outros 60 e tal aderentes, não têm direito a projectar o futuro? Acha o líder do PS-M, eleito com quase 99% dos votos, que quem quer o melhor para os socialistas faz o jogo do PSD, devendo por isso ser alvo de ameaça e de purga, de pressão e de chantagem?

O PSD-M viveu uma disputa renhida em intrigas, queixas e traições. Mas também em votos, com Manuel António Correia a perder novamente para Miguel Albuquerque. E nunca foi tão fácil ganhar-lhe. Por causa da investigação judicial em curso, dos ziguezagues habituais e do desgaste governativo. E vão três derrotas. E em todas sempre com o apoio de Alberto João Jardim, à custa de quem, durante décadas, quase todos os que são importantes no partido foram eleitos.

Se não foi por falta de apoios sonantes, de tempo útil, de dedicação de gente com coragem ou de conhecimento de causas e se sabia ao que ia, aceitou as regras do jogo com as quais foi conivente durante vários anos e que agora questionou e teve a seu lado os que lhe fizeram exigências rendendo-lhe cumplicidade, algo falhou. E a culpa não pode ser só de quem quis jogar sem treinar ou lançar sementes sem abrir regos.

Todos sabem que os cacos no partido colam-se com vitórias. Ou com novas oportunidades, porventura as que forem ditadas pela justiça ou por Marcelo, mas só para os que continuarem activos. Até lá se alguém cair na esparrela de expulsar militantes que optaram por encetar uma legítima mudança de rumo - o que não seria inédito, pois no arquivo de notícias constam vários momentos de depuração liderada por Jardim – revelará imprudência, tanto mais que a vitalidade de cada projecto só ganha expressão no comparativo das propostas e nunca nas desavenças circunstanciais.

Uma coisa é quem deixou de ter confiança política no líder ser consequente e colocar o lugar à disposição, se assim entender, o que lhe reforça a honestidade e carácter, outra é quem ganhou desatar a sanear os diferentes, mesmo que sejam etiquetados de desleais, traidores ou ressabiados. Seja como for, amanhem-se até porque 4 mil e tal não são o todo numa Região em agonia, e há muito tempo ligada às máquinas.