Petróleo vai ser considerado tão prejudicial como o tabaco
O ministro de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira, disse hoje que os combustíveis fósseis acabarão por ser considerados tão prejudiciais à saúde como os cigarros.
"A transição energética vai acontecer de uma forma ou de outra, mas também vai acontecer por causa de outro fator, que é a questão cultural", disse Alexandre Silveira numa entrevista à Agência France-Press (AFP) durante uma conferência sobre energia realizada em Houston, Texas, Estados Unidos.
"As novas gerações vão começar a rejeitar os combustíveis fósseis da mesma forma que rejeitaram a indústria do tabaco nos últimos vinte anos", disse, comparando com a consciencialização dos efeitos nocivos do tabaco que ajudou a reduzir o seu consumo. "É o que vai acontecer com o petróleo", afirmou.
Os comentários de Silveira surgem numa altura em que o Brasil, membro dos países produtores de petróleo da OPEP+, também defende uma transição para as energias limpas.
Desde que regressou ao poder para um terceiro mandato em janeiro de 2023, o Presidente do Brasil, Lula da Silva, fez progressos sólidos na implementação da sua promessa de acabar com a desflorestação ilegal na Amazónia, que diminuiu para metade no ano passado em comparação com 2022.
Ao mesmo tempo que o executivo tem um discurso rumo às energias limpas, o Brasil, o maior produtor de petróleo da América Latina, também estabeleceu vários recordes mensais de produção de petróleo bruto no ano passado, nomeadamente em novembro, quando produziu quase 3,7 milhões de barris por dia.
O petróleo é "uma fonte de financiamento tanto para a educação como para a saúde", disse Silveira, bem como uma "fonte muito importante de financiamento para a transição energética".
O ministro brasileiro lembrou que grande parte do petróleo brasileiro é exportado - mais de 1,3 milhões de barris por dia até 2022 - e que essa procura vem mais do mercado mundial do que do mercado interno brasileiro.
"A procura pelo aumento da produção de petróleo não é interna", frisou, acrescentando que "a transição é mais lenta do que deveria ser".
A transição energética precisa de uma "governação global capaz de criar um diálogo mais justo e equitativo entre os países do Sul e os países desenvolvidos", afirmou Silveira.
No início deste mês, um relatório do grupo de reflexão Carbon Tracker revelou que as principais empresas de petróleo e gás do mundo, incluindo a Petrobras, estavam a planear uma expansão dos combustíveis fósseis incompatível com a limitação do aquecimento global.
O Acordo Climático de Paris de 2015 tem como objetivo limitar o aumento da temperatura a 1,5°C.
No total, as energias renováveis no Brasil representam 47% da sua matriz energética, mais do triplo da média mundial de 15%, de acordo com dados do Governo brasileiro.