Poluição

A escalada do tráfego automóvel e da poluição que o acompanha é um problema complexo, tecido por várias vertentes que se entrelaçam numa teia cada vez mais nefasta para o nosso belo lar.

O coração das nossas estradas pulsa ao ritmo de veículos velhos, mal mantidos, entre os quais autocarros que, há mais de 40 anos, desafiam as leis da mecânica e da segurança como fantasmas do passado, assombrando o presente com a sua presença inapropriada.

Porém, não são apenas esses veículos que obscurecem o horizonte com a sua presença desgastada. Muitos proprietários de carros recorrem à manipulação de escapes, reprogramação das centralinas e retirada os filtros de partículas, de modo a conseguirem ter mais potência. Este é um submundo onde a fiscalização parece inexistente, e as inspeções periódicas, que supostamente garantem a nossa segurança, tornaram-se uma farsa, manipuladas para servir interesses particulares de indivíduos que não têm respeito, nem pelo próximo nem pelo ambiente.

Não esqueçamos outro elemento deste cenário tóxico: as motas. Muitas delas, equipadas com ponteiras não homologadas e até mesmo com o chamado “escape direto”, emitem ruídos ensurdecedores muito para além do permitido. De noite, organizam corridas, espalham caos na via rápida com o seu barulho estridente, que ecoa pelas nossas montalhas. Mais um lembrete da constante negligência e impunidade que parecem reinar neste paraíso outrora tranquilo. A situação agrava-se com a avalanche de carros adquiridos pelas rent-a-car, alimentando o frenesim das nossas estradas com turistas deslumbrados, mas também desorientados. As estradas congestionadas são palcos de acidentes frequentes, onde a condução errática torna-se uma ameaça constante à segurança de todos.

Para os que praticam desporto na rua, como eu, sabem que ao correr nas avenidas do Funchal e na estrada monumental, o ar torna-se quase irrespirável, não só pela quantidade de carros, mas também pelos autocarros de turismo que enchem as ruas, despejando no ar o seu fardo de toxinas.

O Funchal, outrora o centro pulsante da nossa ilha, está a sufocar sob o peso das suas posturas congestionadas.

É legítimo perguntar: O que fazem os órgãos competentes? Onde anda a polícia? Por que a fiscalização falha tanto em proteger o bem-estar e a qualidade de vida dos cidadãos da Ilha da Madeira?

O governo, ao invés de olhar para o futuro com visão e compromisso, parece cego diante da emergência climática e da necessidade premente de sustentabilidade. Em vez disso, opta por construir mais parques de estacionamento e mais estradas, como se estas fossem soluções mágicas para os nossos problemas.

E assim, a Ilha da Madeira, está lentamente a ganhar uma reputação indesejada, e la fora já é conhecida como o “paraíso com cheiro a diesel”.

Relembro: O futuro da nossa ilha, e das gerações que a herdarão, depende das nossas ações hoje.

P. Abreu