Entre as 22 e as 23 horas desta sexta-feira, dia 22 de Março, junte-se a este momento e comemore de forma marcante o Dia Mundial da Água.
A quarta edição do movimento ‘H2Off’ volta a associar-se, este ano, ao Dia Mundial da Água, que hoje se assinala, como forma de incentivar todas as pessoas à poupança e à preservação daquele que um bem essencial à vida. O desafio passa por fechar a torneira durante 60 minutos, a partir das 22 horas, como forma de valorizar cada vez mais a falta que este bem nos faz.
Esta é uma iniciativa promovida pela APDA - Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas, através da sua Comissão Especializada de Comunicação e Educação Ambiental, que acontece pelo quarto ano consecutivo e que assenta na acção simbólica de fechar a torneira durante um curto período de tempo, como forma de alertar para o valor inestimável da água.
Cada vez mais, a escassez hídrica tem estado no centro das atenção. No ano passado, a seca severa fez com Portugal se deparasse com problemas bastante graves no abastecimento de água à população e para a agricultura. E se, até agora, na Madeira, essa é uma preocupação que parece distante da nossa realidade, os cenários futuros mais favoráveis não deixam margem para dúvidas quanto à necessidade de implementarmos medidas que se coadunem com a poupança e preservação deste precioso líquido. Basta pensarmos que, conforme pudemos constatar no ano passado, a tendência é chover vada vez menos, levando a que a reposição das reservas seja mais deficitária.
Além de todas as medidas públicas que têm vindo a ser tomadas, com investimentos avultados pelas várias instâncias fovernativas regionais e concelhias, como a redução das perdas nas redes de distribuição ou a criação de mais e melhores reservatórios, impõe-se uma atitude mais responsável por parte de cada um de nós.
E embora os estudos apontem para uma consciência crescente, ainda que ténue, entre todas partes interessadas para a necessidade de alcançar um futuro com água para todos, a verdade é que o caminho a percorrer afigura-se longo, pois tem de ser global, exigindo uma transformação cooperativa na abordagem à gestão dos recursos hídricos e dos respectivos ecossistemas.
Madeira com dois ‘embaixadores da água’
A Madeira conta com dois ‘embaixadores da água’ neste movimento: o antigo velajador olímpico João Rodrigues, para quem a água é um recurso precioso, que não deve ser desperdiçãdo; e a designer de interiores Nini Andrade, que tem na água a sua bebida de eleição e praticamente exclusiva, sendo que às refeições opta por água morna.
O DIÁRIO falou com João Rodrigues para perceber melhor a sua ligação a este movimento e que conselhos deixa aos madeirenses para melhor preservarem a água.
Questionado sobre o valor que damos a esta bem, o ex-atleta olímpico recorda a visita, à Madeira, de um amigo israelita, há cerca de 30 anos, que se dizia surpreendido com a forma como os madeirenses desperdiçavam água. “Foi a primeira vez que tive a percepção do valor que nós, madeirenses, damos à água. Ele ficou chocado com a quantidade de água que era desperdiçada, por exemplo, com a lavagem de carros ou de quintais”, relata. “Foi a partir daí que comecei a preocupar-me e a reflectir mais sobre isso”, constata.
Reconhece que, “felizmente”, o paradigam tem vindo a alterar-se significativamente. “Hoje já não deixamos a torneira aberta quando lavamos os dentes, já não deixamos a torneira a correr enquanto tomamos banho”, nota.
As viagens que tem feito aos quatro cantos do Mundo têm permitido contactar com realidades muito diferentes, destacando os locais onde a água é escassa e as populações têm de seguir estratégias bastante rigorosas para conseguirem ter acesso a este bem.
Sobre a realidade madeirense, João Rodrigues destaca o papel importante que têm as levadas, nomeadamente no abastecimento às populações e na disponibilização da mesma para a agricultura ou para a produção de energia eléctrica.
O velejador frisa, nesse contexto, a visão empreendedora que tiveram os nossos antepassados, “para que nós hoje possamos ter acesso à água sem grandes dificuldades, pelo menos por enquanto”, sustenta. “Eles perceberam, na altura, a importância que a água tinha para a sobrevivência de uma comunidade como a nossa”, refere.
Em jeito de homenagem a esse obreiros da rede de levadas, João Rodrigues entende que todos nós, madeirenses, devemos assumir um papel mais responsável na poupança e preservação deste bem.
Unesco alerta para problemas
Refere o movimento ‘H2Off’ que o acesso à água potável e ao saneamento são direitos humanos reconhecidos pelas Nações Unidas desde 28 de Julho de 2010.
Mas, os números apurados no Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, do ano passado, reflectem uma realidade avassaladora: dois mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável e 3,6 mil milhões vivem sem saneamento básico.
Refere o mesmo documento que “o uso da água tem aumentado no âmbito global em cerca de 1% ao ano nos últimos 40 anos, e estima-se que cresça a uma taxa semelhante até 2050, impulsionado por uma combinação de crescimento populacional, desenvolvimento socio-económico e mudanças nos padrões de consumo”.
Os dados revelados sustentam que “a maior parte desse aumento está concentrada em países de renda média e baixa, particularmente em economias emergentes”.
Com a escassez de água a se assumir, à medida que os anos passam, como uma realidade endémica de mais regiões em todo o planeta, resultado do que se poderá designar de ‘stress hídrico’, urge contrariar a aceleração e a disseminação da poluição da água doce, em linha com a necessidade de implementar medidas metigadoras das alterações climáticas.
Com as alterações do clima “a escassez sazonal de água aumentará em regiões onde actualmente o recurso é abundante”, alerta a Unesco, no referido relatório, notando que a mesma “irá piorar em regiões onde já há baixa disponibilidade de água”.
Em média, 10% da população mundial vive em países com ‘stress hídrico’ alto ou crítico.
Globalmente, a eficiência do uso da água aumentou 9% de 2015 para 2018, refere o documento. O progresso foi maior no sector industrial (aumento de 15%), seguido pelos serviços de abastecimento de água e saneamento e pelos sectores agrícolas (aumento de 8%). Mas os resultados têm de ser melhorados.