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Telavive diz que levar ajuda humanitária a Gaza "não é uma questão simples"

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Foto EPA

O Governo israelita defendeu hoje que a entrega de ajuda na Faixa de Gaza "não é uma questão simples" e explicou que o sofrimento humanitário no enclave é o "resultado doloroso de intensas hostilidades armadas que Israel não iniciou".

Nas observações israelitas publicadas hoje pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), Telavive acusa a África do Sul de, no mais recente pedido de medidas provisórias adicionais contra Israel, seguir "um padrão familiar de deturpação da realidade, atribuindo falsamente essa alegada realidade a atos impróprios de Israel e atribuindo caluniosamente a Israel uma intenção maligna que simplesmente não existe".

A África do Sul - país que apresentou a queixa de genocídio junto do TIJ contra Israel - é também acusada pelas autoridades israelitas de "atribuir falsamente uma suposta realidade a atos impróprios" de Israel, segundo as considerações de Telavive apresentadas à mais alta instância judicial da ONU, consultadas e divulgadas hoje pela agência de notícias espanhola EFE.

Telavive considerou as acusações da África do Sul perante o TIJ "ultrajantes e sem fundamento" e negou a alegação de que Israel "massacra palestinianos desesperados e esfomeados", "mata deliberadamente, tendo como alvo trabalhadores humanitários" e "utiliza a ajuda humanitária como 'moeda de troca nas negociações'".

"Há desafios prementes na tentativa de resolver o sofrimento humanitário em Gaza. Há também vítimas civis trágicas e angustiantes nesta guerra. Estas realidades são o resultado doloroso de hostilidades armadas intensas que Israel não iniciou e não queria. São os duros efeitos de uma guerra urbana contra uma organização terrorista genocida", escreveu o Governo israelita nas considerações.

Sobre o incidente de 29 de fevereiro, em que 118 habitantes de Gaza foram mortos e mais de 700 ficaram feridos enquanto aguardavam a chegada de ajuda humanitária, Israel argumentou no TIJ que as suas tropas dispararam "tiros de aviso" porque "milhares de residentes de Gaza bloquearam o movimento do comboio e começaram a saquear a ajuda que este estava a entregar".

"Quando estes tiros se revelaram insuficientes, acabaram por ser disparados tiros reais contra aqueles que se considerava representarem um perigo iminente. A prestação de assistência humanitária à população civil em Gaza não é uma questão simples", afirmou Israel.

Israel argumentou ainda que há uma "falta de medidas discerníveis por parte da África do Sul para usar a sua influência com o seu aliado Hamas para facilitar a libertação" dos 134 reféns ainda detidos pelo grupo islamita palestiniano, sublinhando que tal evidencia "as motivações por trás das ações da África do Sul e a natureza da sua alegada preocupação com a vida humana" na Faixa de Gaza.

"No seu conjunto, as apresentações estridentes e repetidas da África do Sul também sofrem de uma falha mais fundamental", avisou Israel, garantindo que tomou "medidas continuamente significativas" e "iniciativas humanitárias" durante a guerra em Gaza que "não podem ser conciliadas com uma intenção genocida".

Para Israel, uma "falha" no pedido de Pretória é a "forte dependência de documentos produzidos sob os auspícios da ONU ou preparados por terceiros", quando, lamentou, "não se pode dizer que constituam provas suficientes de qualidade fiável", uma vez que se baseiam em "meras afirmações e opiniões" e não tiveram "a participação de Israel e/ou sem acesso a informações relevantes e necessárias".

A 29 de dezembro, a África do Sul iniciou um processo no TIJ contra Israel por violação da Convenção sobre o Genocídio na sequência da campanha de bombardeamentos das forças israelitas que tem assolado o enclave palestiniano, controlado pelo Hamas desde 2007.

A 26 de janeiro, o TIJ emitiu medidas provisórias que exigem que Israel tome medidas "imediatas e eficazes" para impedir a prática de genocídio contra os palestinianos na Faixa de Gaza. 

Há duas semanas, e pela segunda vez desde o final de janeiro, a África do Sul exigiu medidas provisórias adicionais contra Israel, incluindo um cessar-fogo imediato, porque, alegadamente, Israel está a violar as medidas já emitidas.

Pretória referiu a "ameaça de fome total" que os palestinianos enfrentam e a necessidade de "pôr termo à tragédia imediata".

As declarações agora publicadas pelo TIJ são a resposta de Israel ao último pedido de medidas adicionais apresentado pela África do Sul, não havendo ainda uma data para uma reação do tribunal.

Num outro caso, a Nicarágua deu início a um processo no TIJ contra o Governo alemão por não ter tentado de forma plausível "impedir o genocídio" contra os palestinianos em Gaza, nomeadamente fornecendo "apoio político, financeiro e militar" a Israel e retirando o financiamento à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA).

As audiências deste processo estão marcadas para 08 e 09 de abril.