OMS exige acesso humanitário à totalidade da Faixa de Gaza para evitar catástrofe
O acesso humanitário à totalidade da Faixa de Gaza tem de ser retomado para evitar uma catástrofe, defendeu hoje a Organização Mundial da Saúde após um relatório da ONU ter alertado para uma situação iminente de fome no enclave.
Num comunicado hoje divulgado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apela "à retoma dos serviços de saúde, alimentação e higiene" e ao fornecimento de alimentos "seguros, nutritivos e suficientes" à população mais necessitada do território, controlado pelo grupo islamita palestiniano Hamas desde 2007.
"O tráfego de produtos comerciais também tem de ser completamente retomado para atender às necessidades", defendeu a organização do sistema da ONU, reagindo ao novo relatório realizado por um grupo de organizações internacionais e instituições de ajuda humanitária (entre as quais a própria OMS), conhecido como Iniciativa Integrada de Classificação da Fase de Segurança Alimentar (IPC).
De acordo com o documento, mais de 1,1 milhões de habitantes de Gaza -- ou seja metade da população - enfrentam "uma situação de fome catastrófica", o que constitui "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em termos de segurança alimentar no mundo.
O estudo adianta ainda que o cenário ameaça espalhar-se por todo o enclave, colocando 2,2 milhões de palestinianos na mais ampla e grave crise alimentar do mundo.
Em termos de saúde, a OMS recorda que os ataques às instalações de saúde na Faixa de Gaza fizeram com que 58% dos hospitais deixassem de funcionar, especialmente no norte do território, onde três em cada quatro não estão operacionais.
Hoje mesmo, o diretor-geral da OMS admitiu estar "terrivelmente preocupado" com a situação no maior hospital da Faixa de Gaza, onde Israel lançou uma ofensiva militar, acrescentando que os combates "colocam em perigo a saúde de funcionários, pacientes e civis".
"Estamos terrivelmente preocupados com a situação no hospital al-Shifa, no norte de Gaza", escreveu Tedros Adhanom Ghebreyesus na rede social X (antigo Twitter), alertando que "qualquer combate ou militarização da instalação compromete os serviços de saúde, o acesso de ambulâncias e a entrega de materiais que salvam vidas".
A posição da OMS sobre a situação deste hospital em concreto foi tomada depois de o grupo islamita Hamas ter instado a organização e a comunidade internacional a proteger e a documentar "os crimes que as tropas sionistas nazis" de Israel estão a realizar contra complexos médicos na Faixa de Gaza.
Segundo adiantou o Hamas, um grupo de soldados israelitas cercou hoje de manhã o hospital al-Shifa, o maior do enclave localizado na cidade de Gaza, no norte.
"O facto de a comunidade internacional e as Nações Unidas não terem tomado medidas contra o exército de ocupação deu-lhes luz verde para continuar a guerra de genocídio e de limpeza étnica que estão a cometer contra o nosso povo, um dos pilares da qual é a destruição de instalações na Faixa de Gaza", denunciou o grupo, num comunicado.
O Ministério da Saúde de Gaza alertou que as vidas dos 30 mil deslocados que estão refugiados naquele hospital "estão em perigo" e que, em consequência dos bombardeamentos e da falta de luz para manter os geradores a funcionar, já existem pelo menos 5.000 feridos.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) também apelou hoje a que seja permitido o acesso imediato a Gaza, tendo a vice-diretora-geral da entidade, Beth Bechdol, alertado que as condições no enclave palestiniano já são piores do que situações registadas em países como o Sudão, a Somália ou o Afeganistão.
A guerra em curso entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano em solo israelita, em 07 de outubro, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.
Em retaliação, Israel tem bombardeado a Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local liderado pelo Hamas, já foram mortas mais de 31 mil pessoas, maioritariamente civis.
A ofensiva israelita também tem destruído a maioria das infraestruturas de Gaza e perto de dois milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas.