Protestos ao meio-dia juntaram milhares de Lisboa a Vilnius
A iniciativa de protesto "Meio-dia contra Putin", lançada inicialmente pelo opositor russo Alexei Navalny, juntou hoje milhares de pessoas em dezenas de cidades europeias com o objetivo de honrar a memória do ativista e denunciar uma eleição presidencial considerada viciada.
De acordo com a agência francesa de notícias France-Presse (AFP), a ação de protesto estendeu-se de Lisboa a Vilnius, passando por Paris, Berlim e Haia, entre outras cidades em que os cidadãos russos se deslocaram à embaixada local à mesma hora para colocar o seu voto e assim mostrar a crítica à Presidência de Vladimir Putin.
Em Paris, debaixo de chuva, milhares de russos, com botas de borracha ou guarda-chuvas, fizeram uma fila de mais de 600 metros pelas 12:30 locais.
"Vou usar o meu boletim de voto como um panfleto", disse Tatiana Léontieva, de 43 anos, acrescentando: "Acho que vou escrever 'Navalny', vou dizer que Putin é ilegítimo, que apoio os valores democráticos."
"Se Putin fizer 3% a 5% aqui, será um sucesso para ele", ironizou Gennadi Goudkov, outro eleitor russo em Paris que garante que muitos compatriotas riscaram os boletins de voto.
Para Ivan Zhdanov, que dirige a fundação anticorrupção de Navalny em Vilnius, na Lituânia, o protesto do meio-dia de domingo foi um sucesso, mesmo nas cidades russas, apesar da "intimidação" das autoridades.
"Trata-se de uma manifestação simbólica, mas também sabemos que muitas ditaduras caem depois de acontecimentos semelhantes", acrescentou, em entrevista à AFP na capital da Lituânia.
Em Belgrado, muitos opositores desenrolaram uma faixa em frente a uma mesa de voto com a inscrição "Putin não é a Rússia", sob o aplauso de alguns russos que tinham ido colocar o seu boletim de voto na urna.
"Muitas pessoas vão riscar os seus boletins de voto para que não sejam válidos, votando em vários candidatos. Se eu tiver tempo, farei o mesmo", disse o político da oposição Peter Nikitin.
Em Haia, milhares de russos fizeram uma fila de várias centenas de metros em frente à embaixada russa, à volta da qual foi montado um cordão policial, segundo os meios de comunicação social holandeses. Alguns estavam vestidos de azul e branco, as cores da oposição, e outros agitavam bandeiras ucranianas ou depositavam flores em frente a um retrato de Alexei Navalny.
Em Istambul, onde dezenas de milhares de russos se refugiaram, 400 metros de filas à porta do consulado da Rússia testemunharam a determinação dos exilados em denunciar o domínio do líder do Kremlin, constatou a AFP.
Em Lisboa, largas centenas de russos esperaram ordeiramente a sua vez para votar na embaixada do país de origem e muitos deles não esconderam a vontade de mudar, mas também alguma descrença no processo eleitoral.
"Vou votar anti-Putin e a esperança é esta, que algum dia esta ditadura do Putin acabe", afirmou à Lusa a atriz Anna Eremin, lembrando que "quando a guerra começou, as pessoas ainda tinham medo de falar, mas esse medo está a acabar".
A ação "Meio-dia contra Putin" convida os cidadãos russos, na Rússia e a nível internacional, a deslocarem-se às respetivas assembleias de voto ao meio-dia do último dia das eleições presidenciais "para expressarem uma posição coletiva contra a atual situação política", de acordo com os promotores.
A ideia partiu de Alexei Navalny e foi divulgada nas redes sociais do líder da oposição russa no início de fevereiro. Duas semanas depois, o ativista morreu na prisão, onde cumpria uma pena de 19 anos.
Após a morte do marido, Yulia Navalnaya tem seguido os seus passos de contestação ao Kremlin e apelou aos russos para contestarem Putin, propondo que votassem em qualquer candidato menos nele, deixassem um voto nulo ou escrevessem Navalny em letras grandes no boletim de voto.
As eleições presidenciais russas, que decorrem desde sexta-feira, são vistas como uma mera formalidade com um vencedor antecipado, tendo sido autorizadas apenas candidaturas classificadas como amigáveis em relação ao Kremlin (presidência): Nikolai Kharitonov, do Partido Comunista, Leonid Slutsky, do nacionalista Partido Liberal Democrata, e Vladislav Davankov, do Novo Partido Popular.