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O Governo Regional Financia o Alcoolismo

Os “engenhos” sabem que se não pagarem melhor ao produtor acabarão sem matéria prima

Li um dia destes na Imprensa Regional que o Governo Regional iria aumentar o preço da cana do açúcar a pagar aos seus produtores, sendo esse aumento dividido entre os fabricantes de aguardente e mel (com 2 cêntimos) e o restante pelo Governo Regional com o dinheiro dos nossos impostos e que ninguém da oposição tinha pedido um valor tão alto. Esta parte última não é verdadeira, até porque a maior parte dos partidos da oposição não sabem fazer as contas dos custos de produção e do lucro do agricultor, do lucro, sim, porque ele como interveniente principal na produção da matéria prima, tem o direito de ter algum lucro.

Ora, o ano passado escrevi um artigo em que pedia o valor de um quilograma de cana de açúcar fosse de pelo menos de 50 cêntimos e apresentava as respetivas contas. Entretanto passou-se um ano e os aumentos médios têm sido superiores a seis por cento e para que não faça novamente as contas, sugiro para este ano de 2024 o preço de 53 cêntimos cada quilograma, acrescidos dos restantes apoios, como por exemplo o do transporte desde ao terreno até ao “engenho”.

A diferença entre a cultura tradicional e a cultura biológica, assim como a variedade “canica” deve ser superior aos 3 cêntimos indicados, porque as diferenças de custos de produção é muito superior, pelo menos em 10 cêntimos, ou seja, neste caso o preço a pagar deveria ser de 63 cêntimos cada quilograma, pelo menos.

O aumento da cana de açúcar deve ser suportado pelo consumidor, principalmente de poncha, em que os turistas têm um peso muito grande. Os “engenhos” aumentam o produtor de cana e aumentam o preço de venda de um litro de aguardente. O dinheiro dos nossos impostos não pode servir para financiar o alcoolismo, quando na realidade esse dinheiro faz falta para subsidiar alguns produtos alimentares, como, por exemplo a “semilha”. Quanto ao apoio técnico aos produtores estamos completamente de acordo, mas não nos devemos esquecer que a cultura da cana de açúcar, naturalmente diminui a partir do 2º ano de colheita até um peso por hectare completamente insuportável, o que nos leva a pedir que esta cultura tenha apoios comunitários para a sua renovação num máximo de 8 anos.

Os “engenhos” sabem que se não pagarem melhor ao produtor acabarão sem matéria prima para fazerem um produto “DOP”, pelos fatores atrás indicados, mas alguns preferem não ter um produto “DOP” e obter a aguardente ou rum agrícola a partir de melaços importados. Aqueles que perceberem bem este fenómeno, e há quem os conheça bem, ganharão no futuro, mas a habitual “panelinha” feita entre os seus proprietários, que é ilegal, não lhes permite melhorar as condições ao agricultor.

Só para que percebam melhor vamos fazer uma conta muito rápida: São precisos, em média, 12 kgs de cana para fazer um litro e Rum agrícola de 50% de álcool e se considerarmos os 50 cêntimos o custo de cada kg de cana de açúcar, teremos um custo de seis euros e se considerarmos que um litro dá para cerca de 20 ponchas, teremos um aumento de 30 cêntimos em cada uma. Será que o consumidor de poncha não suporta este aumento, mesmo que seja até de um euro?

Não percebemos a atitude dos “engenhos”, até porque já alguns não têm produto para vender!!!!

A questão do pagamento de acordo com o grau Brix deve servir para premiar os melhores produtores e não para obter valores médios.

Este é mais um dos meus pequenos artigos sobre a cana do açúcar e continuarei a lutar ao lado os nossos produtores. O meu primeiro artigo que mereceu a primeira página do DN em 1976 ou 77 valeu um aumento de 55 centavos para um escudo (ainda não havia euros), por isso tenho razões para esclarecer a opinião pública com um trabalho sério que unicamente como finalidade apoiar aqueles que trabalham o campo e que colaboram com a nossa paisagem. Nesse ano houve greve dos produtores que ocuparam o “Hinton” e a AGAA (Administração geral do Açúcar e do Álcool).