Será a Inteligência Emocional o nosso último reduto?
A Inteligência Artificial (IA) já há muito que nos serve. Quando ligamos o telemóvel, acendemos o computador, mudamos de programa na televisão, etc., estamos a utilizá-la. A diferença é que, agora, a tecnologia evoluiu e tornou-a muito mais diversificada, eficaz e “inteligente”. No entanto, é necessário frisar que a IA não tem por base raciocínios que correspondam ao pensamento humano, assentando antes em fórmulas matemáticas. Apesar disso, e aqui é que reside o grande problema, a IA é capaz de aprender através de experiências e de se adaptar a novos dados e situações. É verdade, porém, que ela também traz benefícios para praticamente todos os sectores da sociedade. Mas a que preço?
Este ritmo estonteante da evolução da IA e a ameaça que ela, de facto, representa, levou a UE a legislar recentemente regras claras no que concerne à aplicação desta tecnologia. Infelizmente, tudo leva a crer que estas precauções revelar-se-ão em breve obsoletas. Na hora actual já se fala na possibilidade de a IA nos poder ler o pensamento. E é talvez aqui que a Inteligência Emocional (IE) nos poderá oferecer uma arma preciosa.
A inteligência emocional consiste na capacidade de identificar, controlar e manejar as suas próprias emoções e sentimentos assim como os dos outros. Apesar de ser um componente importante da chamada “competência social”, encerra valor, utilização e existência independentes. Possuir competência social tem um sentido muito mais vasto e implica conhecer e saber agir em conformidade com as normas e regras da sociedade, em qualquer situação. Interessa, portanto, não confundir IA com IE.
Embora não seja de importância capital e já resida no inconsciente desde o começo da nossa vida em sociedade, o certo é que a inteligência emocional nunca foi devidamente valorizada. Pelo contrário. Emoções e sentimentos são, de um modo geral, considerados como aspectos inferiores da inteligência humana. Só há relativamente pouco tempo, depois de ter sido elevada à categoria de Ciência, é que se começa a vislumbrar o potencial deste ramo da psicologia. Com efeito, o domínio consciente (ou inconsciente) desta ciência poderá ser uma faculdade essencial para nos subtrairmos ao escrutínio pernicioso da IA. Convém não esquecer que a nossa capacidade de “empatizar” e a faculdade de saber interpretar a linguagem do corpo fazem parte integrante da inteligência emocional. Contudo, é necessário salientar que, contrariamente ao que afirma Daniel Goleman (“Emotional Intelligence”, Bantam Books, 1997), a inteligência emocional não é mais importante do que a inteligência “normal.
Numa época em que a IA invadiu a nossa vida quotidiana, em que o capital humano deixou de ter relevância, em que a frieza dos sentimentos impera, importa, é de importância capital, trabalhar para o estudo sério e para a valorização, divulgação e consciencialização da inteligência emocional.
No momento presente, a IE parece ser a única arma de que dispomos para a defesa da nossa integridade.
Asdrúbal Vieira