Do Chega ao Tiririca é um pequeno passo
A propósito da convulsão generalizada que os 1.1 milhões de votos no Chega causaram em Portugal, gostaria de fazer uma pequena reflexão, apartidária, sobre o que julgo ser a sua génese e sobre para onde infelizmente caminhamos.
Dizer que mais de um milhão de portugueses são fachos é não entender o quão fundo a que chegámos, é enfiar a cabeça na areia e não assumir que estamos como estamos porque fomos muito mal governados. Esses 1.1 milhões são na grande maioria ex votantes do chamado bloco central desiludidos com actual estado de coisas, onde os processos levam 20 anos a ser julgados e onde no final ninguém vai preso, onde os motoristas transportam e depositam dinheiro mas no final é tudo legal, onde os concursos são combinados mas não existe ilícito nenhum e onde os gabinetes de advogados que enriquecem com os grandes processos são os que fazem as leis que depois tão bem interpretam.
É normal haver revolta quando não existe dinheiro para a saúde nem para a educação! Onde não se investe na recuperação do património do Estado para promover a habitação porque se prefere “confiscar” o que os privados construíram, atropelando o direito à propriedade. Onde se privatiza, desprivatiza e se torna a privatizar, sempre com o ónus do lado do contribuinte. Onde uma classe média é taxada como se ricos fossem, sem que desses impostos se veja uma correcta aplicação. Perante isto acham difícil aparecerem “Chegas”? A incompetência dos que nos governaram criaram este partido! Não se escandalizem nem se façam de surpreendidos. Porque se estão realmente surpreendidos, além de incompetentes na governação, também são burros...
Isto infelizmente ainda vai piorar; o Chega vai continuar a crescer até ao dia em que muitos dos seus seguidores se decepcionarão. Os “Chegas” nunca farão parte de uma solução construtiva pois não materializam nenhuma mudança real ou credível. Vão acabar por se extinguir no seu próprio vazio. Quando esse dia chegar, passaremos à fase do Tiririca, em que o asco e o desprezo se materializará no voto de um qualquer fantoche que apareça no timming correcto.
Se queremos ser melhor país, temos de ser governados por gente válida, com valores e provas dadas, e não por estes carreiristas que as jotas germinam.
Finalmente, se realmente Portugal fosse mais importante para estes senhores que o próprio ego, a solução passa por um bloco central colocando de lado ideologias e focando-se no futuro do nosso país. Tentem deixar aos nossos filhos algo bem melhor do que recebemos dos nossos pais.
Miguel Freitas