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Candidato dos socialistas europeus promete ser "muito mais duro" com Hungria do que Von der Leyen

Foto Alexandros Michailidis / Shutterstock.com
Foto Alexandros Michailidis / Shutterstock.com

O candidato principal do Partido dos Socialistas Europeus (PES) às eleições europeias de junho promete ser "muito mais duro com a Hungria no futuro" caso seja presidente da Comissão Europeia, criticando Budapeste por estar "afastada dos valores europeus".

"Seria muito, muito mais duro com a Hungria no futuro devido (...) ao contínuo enfraquecimento do Estado de direito com a entrada em vigor de novas leis que restringem a liberdades dos indivíduos, mas também das organizações - como a nova lei que se chama lei da soberania e que é realmente uma lei que me faz lembrar uma lei que Putin [Presidente russo] adotou há alguns anos, o que é absolutamente incompatível com os valores da nossa sociedade aberta", disse Nicolas Schmit, em entrevista à agência Lusa em Bruxelas.

O responsável comparava aquela que seria a sua postura com a atual atuação da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que também é 'Spitzenkandidat' (candidata principal) do Partido Popular Europeu (PPE) às eleições europeias.

Além disso, segundo o candidato socialista, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, "não mostra qualquer solidariedade com a Europa, também no contexto da Ucrânia".

"Ele foi agora aos Estados Unidos, onde apoiou o que [ex-presidente e potencial candidato republicano às presidenciais norte-americanas, Donald] Trump está a dizer sobre a Ucrânia, que não está de acordo com as políticas europeias, pelo que julgo que Orbán mostra cada vez mais que se está a afastar das políticas europeias normais e dos interesses europeus", criticou.

Um dia antes de o Parlamento Europeu decidir se avança para tribunal contra a Comissão Europeia por ter desbloqueado verbas suspensas à Hungria por violação do Estado de direito, Nicolas Schmit avançou à Lusa que "o Parlamento Europeu tem o direito de perguntar aos tribunais se foi correto desbloquear alguns fundos para a Hungria".

"Não tenho qualquer problema com isso. Se querem verificá-lo, devem fazê-lo e, se o tribunal disser que foi um erro, aceito que foi um erro da Comissão", apontou.

A comissão dos Assuntos Jurídicos do Parlamento Europeu vai propor que a assembleia europeia leve a Comissão Europeia a tribunal por ter libertado verbas à Hungria que estavam bloqueadas devido à violação do Estado de direito.

O aval final a esta decisão será dado na quinta-feira, na reunião da Conferência dos Presidentes do Parlamento Europeu, esperando-se que a ação judicial avance até 25 de março.

A ação surge depois de, em dezembro passado, a Comissão Europeia ter desbloqueado uma verba de 10,2 mil milhões de euros que tinha vedado à Hungria por desrespeito do Estado de direito, após melhorias no sistema judicial, mantendo porém 21 mil milhões suspensos.

Este passo permitiu que o Conselho Europeu conseguisse aprovar a abertura de negociações formais de adesão à União Europeia (UE) com a Ucrânia e a Moldova, precisamente dias após o desbloqueio dos cerca de 10 mil milhões de euros.

 Nicolas Schmit rejeita "medo de que UE esteja inundada" por migrantes

Nicolas Schmit rejeita o "medo de que a Europa esteja inundada" por migrantes, assinalando ser a dimensão social que o difere da adversária conservadora Ursula von der Leyen.

"Não partilho a visão de que a Europa está efetivamente ameaçada pela imigração, o que não significa que eu não considere que não tenhamos de ter melhores condições de imigração, mas centrar-me neste tipo de medo de que a Europa está inundada, que defende o PPE [Partido Popular Europeu] aproximando-se da extrema-direita, não é essa a nossa visão", disse Nicolas Schmit, em entrevista à agência Lusa em Bruxelas.

Dias após ter sido nomeado candidato principal ('Spitzenkandidat') do Partido dos Socialistas Europeus (PES, na sigla inglesa) às eleições europeias de 06 a 09 de junho, concorrendo contra a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que é a representante do PPE ao sufrágio, o também comissário europeu do Emprego e Direitos Sociais indicou à Lusa que a União Europeia (UE) tem de "controlar melhor as fronteiras, mas respeitando os valores" europeus, bem como "acelerar os procedimentos, que são obviamente demasiado longos e complexos".

"Quando as pessoas não podem ficar [na UE por não preencherem requisitos para asilo], têm de ser levadas de volta, mas eu não gostaria de envolver países terceiros, como o Ruanda ou outros, nesta questão", comparou Nicolas Schmit, numa alusão ao manifesto eleitoral do PPE.

"As pessoas do PPE falam dos valores cristãos, (...) mas eu pergunto-lhes onde estão esses valores cristãos quando se equaciona pegar nas pessoas e levá-las para Ruanda ou para qualquer outro país [terceiro] seguro porque não se tem coragem de lidar com elas", questionou.

Aos 70 anos, o luxemburguês Nicolas Schmit foi nomeado no início deste mês de março 'Spitzenkandidat' dos socialistas europeus às eleições de junho próximo.

Há uma semana, Ursula von der Leyen também foi nomeada candidata principal do PPE, para tentar uma reeleição à frente da instituição.

O manifesto eleitoral do PPE para as eleições europeias defende acordos com "países terceiros seguros" para transferência de requerentes de asilo, bem como a fixação de "quotas humanitárias anuais de pessoas vulneráveis" na UE, enquanto o do PES fala num "reforço das fronteiras externas da União" para garantir que são "geridas e controladas de forma eficaz", através de um "sistema comum e coordenado de migração e de asilo baseado na solidariedade e na responsabilidade partilhada".

De acordo com Nicolas Schmit, ao contrário de Ursula von der Leyen, a sua candidatura representa "um projeto que tem a ver com a Europa social e com a continuação clara do Pacto Ecológico".

"Penso que há uma grande diferenciação", adiantou à Lusa em Bruxelas.

Neste mandato enquanto comissário europeu do Emprego e dos Direitos Sociais, Nicolas Schmit avançou com importantes dossiês, como regras comuns para salários mínimos na UE e as primeiras normas para assegurar proteção laboral para os trabalhadores das plataformas digitais.

Atualmente, o Parlamento Europeu é composto por sete grupos políticos, sendo o PPE o maior deles, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), a bancada do PES.

A figura dos candidatos principais -- no termo alemão 'Spitzenkandidat' -- surgiu nas eleições europeias de 2014, com os maiores partidos europeus a apresentarem as suas escolhas para futuro presidente da Comissão Europeia.

De seguida, em 2019, tentou-se aplicar novamente este modelo, mas por desacordo entre os grupos políticos estes candidatos principais não ocuparam os altos cargos europeus.

UE tem de cuidar da Defesa por guerra na Ucrânia e incerteza nos EUA

O candidato do PES considera que a guerra na Ucrânia causada pela invasão russa e a incerteza sobre a política norte-americana tornam "necessário que a Europa cuide melhor" da Defesa.

"Há pelo menos duas boas razões. A primeira é que a ameaça russa é muito concreta na Ucrânia e (...) temos de apoiar a Ucrânia tanto quanto possível, custe o que custar, e quanto tempo demorar. E em segundo lugar, não sabemos exatamente o que vai acontecer nos Estados Unidos", dadas as eleições presidenciais de novembro, disse Nicolas Schmit, em entrevista à agência Lusa em Bruxelas.

Precisamente no que toca à guerra na Ucrânia, em território europeu, o responsável referiu que a União Europeia (UE) tem "dependido muito da proteção dos Estados Unidos da América (EUA)", mas, segundo advertiu, "não se sabe, tendo em conta as eleições que se aproximam em novembro, como será a próxima administração norte-americana e qual será o papel dos EUA na NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte]".

"Por isso, penso que é necessário que a Europa cuide melhor da sua própria segurança, trata-se de uma situação absolutamente inevitável", salientou Nicolas Schmit nesta entrevista à Lusa em Bruxelas.

Na semana passada, a Comissão Europeia apresentou uma estratégia industrial europeia de defesa, para criar uma "economia de guerra" na UE, com um programa para investimento no setor que deverá requerer 100 mil milhões de euros.

Em causa está a proposta sobre a Estratégia Industrial de Defesa Europeia para responder às lacunas de investimento no setor com instrumentos europeus e contratos públicos conjuntos e, assim, reforçar a capacidade e apoiar a Ucrânia devido à invasão russa, iniciada em fevereiro de 2022.

Para Nicolas Schmit, é urgente que a UE crie "capacidade financeira" para este setor, o que a seu ver pode passar por emissão de dívida conjunta e com apoio do Banco Europeu de Investimento para suportar tal aposta, "a fim de modernizar a indústria de defesa numa base mais cooperativa".

Aos 70 anos, o luxemburguês Nicolas Schmit, que também é comissário europeu do Emprego e Direitos Sociais, foi nomeado no início deste mês de março 'Spitzenkandidat' (candidato principal) dos socialistas europeus às eleições de junho próximo.

Há uma semana, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também foi nomeada candidata principal do Partido Popular Europeu (PPE), para tentar uma reeleição à frente da instituição.

A líder do executivo comunitário tem vindo a defender que, num potencial novo mandato à frente da instituição, terá um comissário para a Defesa para facilitar a cooperação na UE nesta área e o reforço das capacidades militares.

Questionado pela Lusa sobre este novo cargo, Nicolas Schmit adiantou não ser "contra a ideia".

Porém, "não é por dizer que quero ter um comissário da defesa que se faça muitos progressos na defesa europeia", assinalou o político luxemburguês.

"E se este comissário da defesa não tem recursos, o que é que vai fazer? Para isso, precisamos de uma capacidade financeira, penso que isto é absolutamente necessário", concluiu o cabeça de lista dos socialistas.

A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A Ucrânia tem contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais desde que a Rússia invadiu o país.

Os aliados de Kiev também têm decretado sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra na Ucrânia.

O conflito -- que entrou no terceiro ano - provocou a destruição de importantes infraestruturas em várias áreas na Ucrânia, bem como um número por determinar de vítimas civis e militares.

Atualmente, o Parlamento Europeu é composto por sete grupos políticos, sendo o PPE o maior deles, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), a bancada do PES.