Cidadania, maturidade e seriedade
Colhemos o que plantamos – na vida e na política. Por isso, em plena fase de rescaldo eleitoral, não é tempo para promover feiras de vaidades com base em ideias infundadas de louros obtidos, nem para ceder a posturas fracturantes, mais típicas de mentes frustradas da baixa política e em nada compagináveis com a responsabilidade e sentido de Estado que o serviço à Madeira exige de todos aqueles que ocupam o espaço público.
Dito isto, e face à incerteza governativa que pauta a conjuntura actual na Região e na República, cabe à classe política assumir e promover um número de práticas e um igual número de reformas na sua forma de agir e de estar para que o país, em toda a sua extensão e diversidade geográfica, cultural e social, esteja não só mais integrado nos mecanismos de tomada de decisão, mas também mais motivado para trabalhar em prol do urgente esforço de resgate do fosso de pobreza, corrupção, marasmo e compadrio para o qual foi lançado por cinco décadas de gestão incompetente da parte dos partidos que têm ciclicamente assumido a liderança nacional. Nesse processo, há três aspectos que devem merecer especial atenção.
Primeiro, cidadania activa, não só para que a população verdadeiramente se assuma como fim último do processo governativo, mas também para que utilize, sem receios nem tibiezas, os canais que lhe estão disponíveis para questionar, analisar e, se assim for o caso, denunciar e exigir diálogo a quem tem a obrigação de decidir com tempo, planeamento, discernimento, isenção e deferência constante para com a Causa Pública e o Bem Comum.
Segundo, maturidade democrática para que os partidos eleitos tenham a humildade de interpretar com sabedoria a vontade expressa pelos cidadãos nas urnas, evitando tentativas desesperadas para salvar a pele e promover a ostracização infantil de forças políticas que legitimamente representam milhões de portugueses, promovendo, assim, cenários evitáveis de ingovernabilidade. A mesma maturidade é necessária para que aqueles que ocupam cargos de liderança, seja na República, nas autonomias ou até nos partidos, ouçam atentamente, não cedam a amnésias convenientes, não convertam a política em jogos de sobrevivência, falem muito claro a quem lhes deu o voto, tratem com dignidade quem precisa e saibam conviver com dignidade e respeito com aqueles que têm uma opinião diferente da sua.
Terceiro, seriedade (a quem está no poder) e acutilância (a quem está na oposição) para que, independentemente de divergências ideológicas e opinativas, os três parlamentos do país tenham as condições políticas para ajudar as comunidades a crescer, criar prosperidade para todos os cidadãos (e não para apenas alguns), diversificar a economia, reduzir a fiscalidade, proporcionar um melhor serviço de Saúde, proteger a Educação de ataques ideológicos, valorizar a família, respeitar os idosos, reforçar a segurança do Estado, explorar o potencial imenso do mar e valorizar quem trabalha, em vez de alimentar a letargia da subsidio-dependência.
Porque a política não vale como posto, mas como oportunidade de servir os outros o exercício da mesma não se coaduna com silêncios podres, covardias estratégicas e hesitações tacticistas. Em política, o que parece, é – e o que nenhuma pessoa que é chamada a servir uma causa pode fazer é calar-se, seja sob que pretexto for, ou mudar as suas linhas para agradar ao coro de comentadores e críticos. Saber estar na política é perceber que, até podemos perder batalhas, mas o que não podemos perder é palavra dada perante aqueles que confiaram e acreditaram.