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Análise

Vote sem temer tiques pidescos

No ano de todas as eleições, quem ainda não aproveitou uma das raras excepções ao sistema caduco, exercendo antecipadamente e em mobilidade o dever cívico, está convidado a fortalecer a democracia. É hora de votar. Hoje todos os que têm capacidade electiva são chamados a escolher quem serão os 230 deputados da 16.ª Legislatura da Terceira República Portuguesa - entre os quais seis candidatos do círculo eleitoral da Madeira - e quem será o futuro Governo de Portugal. Só o voto consciente e pensado permite dissipar dúvidas instaladas e definir rumos, mesmo que as maiorias que tudo permitem a quem governa sejam cada vez mais raras.

Só o voto esclarecerá se a antecipação do sufrágio foi ou não um capricho presidencial; se os extremismos chegam ao poder; se as sondagens influenciam ou não os indecisos; ou se os 30 debates que as televisões realizaram no âmbito das eleições legislativas foram úteis. A este nível, um estudo feito recentemente pela Sonda +M a 50 jornalistas em cargos de edição/chefia de mais de 30 órgãos de comunicação social nacional revela um dado eloquente: 57% dos inquiridos consideram que os duelos mediáticos não serviram para esclarecer os portugueses, sendo que a larga maioria (75%) que reprova a iniciativa entende que as televisões “dedicaram demasiado tempo a comentá-los”. Mesmo que a troca de ideias nos diversos formatos informativos permita conhecer as propostas de cada partido ou coligação - algumas das quais utópicas e enganosas - há um outro drama instalado na sociedade que hoje é chamada a fazer escolhas conscientes perante um boletim com 17 alternativas. Um outro estudo, da Pordata, deixa claro que mais de 60% dos cidadãos em Portugal tendem a não confiar na Assembleia da República e que oito em cada 10 inquiridos no nosso País desconfiam da partidocracia vigente. Mais, Portugal está entre os quatro países europeus onde os cidadãos menos confiam na sua capacidade de participar na política, a que não é alheio o facto de 73% dos cidadãos nacionais considerarem que o sistema não permite, ou muito pouco, a influência e a intervenção do comum dos mortais. Os eleitores sentem-se cada vez mais distantes dos decisores, dado que nos últimos 12 meses, apenas 15% dos inquiridos referem ter contactado um político. E acham a política cada vez menos interessante já que 32% dos portugueses dizem nunca falar sobre o tema com amigos ou familiares, enquanto apenas 10% referem discuti-lo frequentemente, valor muito abaixo da média europeia, que é de 25%. Apesar do contexto propício a um crescente e reprovável abstencionismo, hoje há muito mais em causa, sobretudo na Região, mesmo que comprovadamente o eleitorado se revele mais sábio, e menos susceptível aos brindes risonhos, às promessas vãs e ao sensacionalismo predilecto dos ‘surfistas’ políticos. Hoje saber-se-á a dimensão dos estragos da judicialização da política, os danos da investigação em curso que atingiu a cúpula do PSD-M, os efeitos dos oportunismos associados à deriva da coligação que se desfaz logo mais e as consequências dos ziguezagues políticos que geraram uma crise sem precedentes e paralisam parte significativa da economia regional. O que está verdadeiramente em jogo hoje depende do voto de cada um, mesmo que por presunção indevida ou percepção ilusória alguns possam julgar-se em vantagem, mesmos antes das urnas abrirem.