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Fact Check Madeira

A Casa da Moeda está habilitada para avaliar diamantes?

Notícia da CNN Portugal dava conta que a Casa da Moeda teria avaliado em 50 mil euros o diamante encontrado na CMF

Diamantes sintéticos produzidos pela MDT na unidade fabril localizada no Centro Internacional de Negócios da Madeira, no Caniçal
Diamantes sintéticos produzidos pela MDT na unidade fabril localizada no Centro Internacional de Negócios da Madeira, no Caniçal, Foto Governo Regional da Madeira

Os elementos indiciários no processo de alegada corrupção na Madeira foram o foco das atenções esta quarta-feira. Em causa esteve o valor de “uma pedra aparentemente preciosa (diamante), dissimulada entre vários cartões de visita e envolta em papel vegetal” apreendida pela Polícia Judiciária na secretária do gabinete do Paços do Concelho do Funchal, afecto a Pedro Calado na qualidade de presidente da autarquia.

Perícia ao diamante "pode ser uma irregularidade"

Advogado Paulo Sá e Cunha recusa indicar o valor apontado pela perícia, diz apenas que "é muito inferior" a 50 mil euros e que não foi avaliado pela Casa da Moeda

A dita pedra preciosa que tem dado o que falar desde a revelação pública, na comunicação social e nas redes sociais, da apresentação do Ministério Público, no final de Janeiro, volta à baila depois de a CNN Portugal divulgar que a peça descrita pelo advogado de Pedro Calado como um “diamante sintético” com “valor desprezável” estaria avaliada em 50 mil euros pela Casa da Moeda. Confrontado com a divulgação, Paulo de Sá e Cunha refutou as informações. 

Afinal a Casa da Moeda está ou não habilitada para avaliar diamantes?

A INCM - Imprensa Nacional Casa da Moeda é uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos com sede em Lisboa. A entidade tem a incumbência de produzir diversos bens e prestar diversos serviços para o Estado português, tais como a produção de documentos de segurança, como o cartão de cidadão ou o passaporte, a autenticação de metais preciosos, a edição do Diário da República, a publicação de obras fundamentais da língua e da cultura portuguesa, a cunhagem de moeda corrente e de colecção, entre outros. 

A INCM apenas garante a certificação da autenticidade e do toque legal de materiais preciosos. Ora, a Casa da Moeda não procede à avaliação de peças e deixou isso claro num comunicado oficial emitido à Agência Lusa: "A INCM jamais atribui qualquer valor financeiro ou monetário às peças que avalia neste contexto, tendo em conta que esse valor é subjectivo e pode depender de vários factores, como o trabalho artístico, a antiguidade ou o valor histórico, entre outros".

Casa da Moeda nega ter avaliado diamante de Pedro Calado

A Casa da Moeda disse hoje que não avaliou um "suposto diamante" encontrado na Presidência da Câmara do Funchal e precisou que apenas certifica a autenticidade e a legalidade de metais preciosos.

Ao DIÁRIO, o presidente da APAOINCM - Associação dos Peritos Avaliadores Oficias de Ourivesaria e Joalharia, Henrique Correia Braga, lamenta as notícias falsas e explica que a Casa da Moeda "nunca teve" autoridade para emitir pareceres sobre o valor de peças ditas preciosas, sendo apenas a instituição formadora e certificadora dos avaliadores. 

Henrique Correia Braga aponta que a 'confusão' à volta da entidade avaliadora do diamante pode ter sido causada por leituras erradas de documentos.

Às vezes, os ourives, alguns avaliadores, põem no cabeçalho o escudo nacional a dizer Casa da Moeda e depois põem em letras pequenas "licenciado pela", por exemplo.  Presidente da APAOINCM - Associação dos Peritos Avaliadores Oficias de Ourivesaria e Joalharia,

O responsável pela APAOINCM indica ainda que a entidade vai requerer o acesso à avaliação "para verificar se existe algum erro". 

Portanto, é falso que a Casa da Moeda esteja habilitada para avaliar monetariamente diamantes. 

Os profissionais habilitados para fazer a avaliação de pedras preciosas ou materiais gemológicos são os avaliadores de artigos com metais preciosos e materiais gemológicos ou ainda, no caso dos diamantes, os peritos-classificadores-avaliadores de diamantes em bruto, que são apenas  titulados pela INCM para o exercício independente da sua atividade, conforme previsto no n.º 2 do artigo 9.º da Portaria n.º 333-B/2017, de 3 de novembro, e no n.º 2 do artigo 18.º da Lei n.º 5/2015, de 15 de janeiro. Casa da Moeda

Em causa, agora, está também a veracidade do valor noticiado pela CNN Portugal, que avançou que o alegado diamante vale 50 mil euros. 

Ontem, o advogado de Pedro Calado contestou veemente a informação, avançando que a pedra encontrada tem um "valor insignificante", na ordem "das centenas de euros". 

Caso se verifique que o objecto é um diamante sintético, tal como avançou Paulo Sá e Cunha, é bem provável que o valor de 50 mil euros esteja igualmente incorrecto à semelhança da informação sobre a entidade avaliadora. 

A Casa da Moeda avaliou em 50 mil euros o diamante encontrado no gabinete de Pedro Calado na CMF.