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O inconformismo militante por um futuro melhor

Ser militante não implica uma militância cega e lealdade canina para com os dirigentes

Já me chamaram muitos nomes ao longo dos anos, pouco simpáticos, a maioria das vezes por militantes do meu partido, simplesmente porque fui tendo um percurso de intervenção que fugia à norma. Houve momentos que me senti muito sozinha e excluída, apesar dos telefonemas escondidos a darem-me apoio.

Demiti-me da comissão política da JSD, quando Jaime Filipe Ramos era líder; Assumi posições públicas contra a corrupção com artigos de opinião, tendo um deles, com o título “ladrões corruptos e chupistas”, grande impacto em 2008; Emiti uma declaração em congresso contra a aliança com o CDS e devo ter sido a primeira a advogar, perante os acontecimentos, que Miguel Albuquerque, apesar da presunção de inocência, deveria demitir-se e a necessidade de eleições regionais com um novo rosto candidato do PSD eleito pelas bases; e Bati-me sempre pela ética na política. Tudo isto enquanto, cidadã anónima, deputada ou responsável pelas organizações por onde passei, cuja coerência sempre me conferiu integridade moral nestas matérias, ainda que não me advogue como uma autoridade moral. Elegi os princípios que devia reger-me e nunca fugi deles na minha ação política, social e cívica e, ainda hoje, perante esta crise política, mais uma vez fui contra a opinião dominante (ou dominada) interna.

Nunca fui uma pessoa conformada e sempre quis mais, enquanto jovem, para o nosso futuro e, agora que tenho filhos, penso ainda mais nas futuras gerações. Cresci pessoal e politicamente com grande sentido de justiça social baseada em princípios de equidade e de exigência do equilíbrio dos vários sectores da sociedade, acreditando que as ilhas da Madeira e do Porto Santo têm todas as condições para garantir às suas populações uma qualidade de vida ainda maior e que é possível melhorar sempre. Moralmente penso sempre que valores quero transmitir aos meus filhos e de como quero que, no geral, se lembrem de mim. Ganhei inimigos mas também o mais importante, respeito e amigos.

Com todos estes amores e desamores nunca deixei de ser militante do PSD. Acredito genuinamente na social-democracia, nos princípios e no projeto ideológico. Tenho orgulho em dizer que sou social-democrata. Contudo, ser militante não implica uma militância cega e lealdade canina para com os dirigentes que nem sempre apresentam as melhores opções. Esse livre arbítrio chama-se liberdade, liberdade de expressão e de opinião, no âmbito da democracia, que são princípios basilares do nosso partido.

Hoje vivemos momentos muito complexos na nossa Região a nível político, e é necessário rapidamente devolver a confiança à nossa população. Temos de ter a capacidade de rapidamente agir e demonstrar que somos capazes de o fazer. O PSD continua a ter os melhores quadros, com pessoas capazes e honestas, mas tem igualmente de ter a capacidade de ir à sociedade civil buscar os melhores. Temos de implementar procedimentos internos claros que fixem regras e incompatibilidades, e que previnam a corrupção, para quem exerça cargos de responsabilidade. Só assim podemos conquistar a confiança da população e da opinião pública no geral. Este é o grande desafio dos partidos da ala democrática e cujos valores acentam na democracia, liberdade e defesa da causa autonómica, para os novos tempos, até para gerarem confiança entre si e possiveis pontos de entendimento governativo. Devolver a credibilidade ao poder político é, de facto, o grande desafio, com todas as decisões difíceis, mas responsáveis, que são incontornáveis e necessárias tomar.

Acreditem que somos capazes, acreditem na democracia, acreditem que o bem mais precioso é a liberdade e que não podemos prescindir dela. Temos de ter coragem de, internamente nos partidos, dizer basta e exigir aos nossos dirigentes o exemplo, a ética e os princípios. Não podemos estar sempre a reagir, apenas, quando o caldo já está entornado.

Acreditem! Sejam militantes inconformados.