Afinal, quem manda no PSD?
É hora de Jaime Filipe Ramos avançar para a liderança de facto do PSD ou deixar que um novo líder assuma a condução dopartido sem tutelas de interesses
Tinha um artigo de opinião preparado com alguma antecedência. Título: “Le petit Salazar”, numa alusão ao epíteto de Alberto João Jardim sobre Jaime Filipe Ramos, então líder da JSD.
Nesse texto, escrevia eu que a “Madeira tem três políticos com poder que se destacam: Miguel Albuquerque, Pedro Calado e Jaime Filipe Ramos. Dos dois primeiros já escrevi o suficiente. Sobre Jaime Filipe não disse muito, talvez mesmo nada. Mas acho que chegou a hora de fazê-lo, com toda a sinceridade e lisura”.
Era para ser publicado hoje. Num outro contexto.
Não imaginava o que estava para acontecer. Mesmo assim, no meu modo de ver, era verdadeira aquela trilogia de poder regional. O resto era tudo paisagem. Desculpem os que se achavam influentes.
Com a sucessão de acontecimentos das duas últimas semanas, dos três resta Jaime Filipe Ramos. Numa tentativa de esconder este poder, único e pessoal, o PSD passou a referir-se a uma cúpula social-democrata, juntando ao líder da bancada parlamentar os presidentes dos órgãos próprios do PSD e o seu secretário-geral. Puro engano público, pois a condução da situação partidária esteve, e está a cargo, unicamente, de Jaime Filipe. Todos os envolvidos aceitam a sua liderança.
Poder exercido sempre com o silêncio e discrição dos que mandam na sombra e nada precisam justificar. Nem precisou falar no Conselho Regional para dar as suas ordens. E eventuais opiniões. Enganem-se os que julgam não ser assim.
Nesta transmissão de testemunho partidário é natural o incómodo de Jaime Filipe. Mandava desde os bastidores de Albuquerque e Calado, agora ficou sem guarnição para dirigir na sombra. Tendo ficado só no pódio da direção social-democrata, é hora de Jaime Filipe Ramos avançar para a liderança de facto do PSD ou deixar que um novo líder assuma a condução do partido sem tutelas de interesses que já deviam ter sido erradicados. Alguém que não seja por ele escolhido.
São 50 anos de poder dinástico que culminaram na maior humilhação possível e imaginável.
Quem mais manda, em toda esta teia de interesses, menos papéis deve ter assinado.
Chega de ingenuidade política como se ninguém tivesse sentido o peso de tanta influência na condução do caminho partidário, em particular da escolha de pessoas para os diferentes lugares públicos.
De quem ele não gosta não resta sequer esperança para uma oportunidade. Tudo está destinado para os que se vergam, aceitam o domínio e se resignam a não ter discurso próprio nem propor diferente. Todos condescendem na sua liderança.
Tal filho igual a tal pai.
Eu sou o exemplo de quem foi sempre prejudicado no PSD pela tirania do poder da família reinante. Para além de ofendido. E nunca fui sequer escolhido para representar o grupo parlamentar na RTP nas centenas de programas em que participámos, durante os 27 anos que fui deputado.
Jaime Filipe provavelmente nunca me leu. Pelo menos nunca manifestou concordância ou desacordo com o conteúdo dos meus escritos. Sempre mostrou ignorar. Mesmo quando saí do registo partidário e coloquei questões fundamentais como a criação de um sistema fiscal próprio. Sobre a proposta de Lei que fiz a Assembleia Legislativa aprovar, sem votos contra, magoou-me nunca me ter questionado sobre a mesma. Ou provocado o seu debate no grupo parlamentar. Nem a contrariou nem manifestou oposição. Zero. E, quando ele toma uma atitude é certo e sabido que não será contrariado. Por razões óbvias. Já era assim antes.
É tempo de mudar o registo político destes 50 anos. Começar de novo. Refundar. Voltar ao partido virado para a satisfação das necessidades e ambições do povo. Querer servir e não ser servido com benefícios que apenas satisfazem interesses pessoais particulares.
Se escrevo este artigo em vésperas de eleições é no desespero de querer salvar o PSD da condenação popular. Ou mudam este ciclo de dirigentes partidários ou o PSD irá sofrer pesada derrota. Uma vitória só se revela possível se provocada uma imediata limpeza de interesses alheios à vontade popular. Tempo para nova geração.
Não deixarei que as próximas eleições pareçam mais do mesmo. Denunciarei. Sejam lá quais forem as consequências políticas.
Acabem com a paralisação do partido, pura perda de tempo em favor da oposição.
Uma nova liderança, distinta da actual cúpula, ajudará os madeirenses a saberem que temos um novo ciclo partidário, com diferentes protagonistas que relançarão a luta por mais autonomia e mais progresso.
Só nova gente na direcção do PSD e na chefia do governo poderão convencer os madeirenses e portosantenses que o PSD continua a ser o melhor projecto político da nossa democracia e autonomia.
O primeiro ministro de França tem 34 anos. Alberto João Jardim tinha 35. Eu fui secretário regional com 27. Gente nova e jovem será capaz de conduzir o PSD para uma nova liderança regional. Não faltam quadros jovens e preparados para a tarefa.
Acreditem na capacidade dos novos e não comprometidos com tudo o que há de errado na política. O PSD tem um património político que já vai para a terceira geração. Que nos orgulha e faz querer continuar.
Apupos no PSD
Os apupos à opinião, diferente da maioria, proferida por Sara Madruga da Costa, ainda que coincidente com a proposta de Alberto João Jardim, mostram bem a actual intransigência no PSD sobre discordâncias internas. O PSD actual não tem este registo mas parece ter voltado à inclemência política donde parecia ter saído. Afinal é sempre tudo muito igual.