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O acordar de Zarco

O dia 23 de janeiro de 2024, irá constituir uma marca na história da autonomia madeirense e da justiça nacional.

A cúpula do PSD-Madeira foi decapitada, levando de arrasto o presidente do governo, o presidente da autarquia do Funchal, alguns afortunados, além doutros governantes e pequenos peões de confiança que também foram visados. Há cartazes colados nas ruas que se transformaram metaforicamente em obituários, demasiado grandes para caberem nas páginas da necrologia. As eleições legislativas nacionais de dez de março, evidenciarão a profundidade do luto das hostes sociais-democratas, e das suas pequenas carraças que hospedaram.

Entre o assombro e a negação, o bairrismo tribal, imputa à justiça, agendas conspirativas, quando as labaredas da justiça lambem a constelação de intocáveis do altar, alimentadas pelo combustível das informações vazadas, e dos cáusticos memes viralizados nas redes sociais. E eis que, o vilão desta história parece ser a justiça, e não, a alegada corrupção que apodrece a fé dos governados. Foi assim com António Costa, e será assim com qualquer semideus da Madeira, com pés de barro e muitas “horas de burro” averbadas nas classificativas, deste circuito tacitamente consentido e validado pela câmara “on-board” da justiça.

Na mesma semana, soubemos que Portugal desceu uma posição, no índice de perceção da corrupção segundo a organização Transparência Internacional, ficando atrás de Cabo Verde, o país de expressão oficial portuguesa em melhor posição neste ranking.

Sabemos que a corrupção existe no dicionário, mas, por vezes, transborda para a vida real.

Os madeirenses e porto-santenses têm o direito de serem chamados, logo que possível às urnas para escolherem novos representantes, pois, o contrato político derivado do recente sufrágio, foi vaporizado pela natureza dos acontecimentos, que anulou quaisquer condições políticas para um recauchutado governo se manter, sustentado pela mesma maioria precária, mesmo depois de esfregado o enegrecido tacho do panelo. O atual PM demissionário em novembro passado, elevou a fasquia dos mínimos éticos, ainda que estivesse suportado por uma sólida maioria, sem empurrões, nem “fogo amigo” ao sair pelos próprios pés. Por sua vez, esta alapada e precária maioria da ALRAM, liderada por um PSD atordoado e temerário, afoga-se nas contradições do cozinhado molho da incoerência, fugindo das eleições como o diabo da cruz. Albuquerque deveria ter cumprido a promessa de se demitir, na noite eleitoral de 24 de setembro de 2023. Falhou novamente na semana passada. Ter-se-ia poupado. Ter-nos-ia poupado.

O PSD já perdeu a Câmara do Funchal para a sucessora de Calado sem militância, nem carisma político. Os estragos não ficarão por aí.

Será avisado, que alguma oposição não salive em demasia pelas óbvias oportunidades desta aparente capitulação do partido do poder. Zarco está desperto, mas ainda mal lavou a cara…