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Afinal, fazemos o mesmo e usamos salto alto

Em alguns anos não vai ser preciso entrevistarem uma mulher porque está a fazer uma coisa que, dizem, é de homens

Sexta-feira passada celebrou-se o Dia do Vigilante da Natureza. Por cá, na homenagem prestada pelo Governo Regional, houve uma particularidade que me saltou à vista. Há mais de 30 anos que não entrava na carreira uma mulher. Faz parte do grupo de nove estagiários que terminou recentemente a formação e que a partir de agora vai ter a responsabilidade de cuidar das nossas reservas naturais. Para os quadros do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, também entrou há pouco tempo uma mulher para a carreira na Polícia Florestal. Tenho fé que isto aos pouco vai lá. Em alguns anos não vai ser preciso entrevistarem uma mulher porque está a fazer uma coisa que, dizem, é de homens.

Descobri que em 73 anos de funcionamento, a Escola Médico-Cirúrgica do Funchal formou 250 médicos, dos quais só duas mulheres. Por sinal, irmãs. Grande notícia em 1902.

Adorava ter conhecido a médica Beatriz Ângelo, que não foi só a primeira cirurgiã a operar no Hospital de São José, como a primeira mulher a votar em Portugal, porque como era viúva tornou-se chefe de família e requereu o direito a pôr lá o papelinho. Coitada, se ela vivesse nos nossos dias ia arrepender-se disso, com a quantidade de vezes que parece que o vamos fazer nos próximos tempos. Birras…

Dito isto, não tarda nada começam a questionar as mulheres como é que conciliam a vida familiar com a profissional e arriscam-se a ouvir aquela resposta em forma de pergunta: porque é que não pergunta isso aos homens? Por acaso fiz essa pergunta palerma há mais de vinte anos a uma pequena que agora comanda a Base Aérea do Montijo e ela foi simpática em não me ter posto fora do avião onde estava sentada no cockpit. Com o sorriso amarelo que me devolveu, aprendi a nunca mais dizer semelhante asneira. Mas gostava mesmo era de ter conhecido era a D. Guiomar Madalena de Sá Vasconcelos Bettencourt Machado Vilhena. Até a semana passada nunca tinha ouvido falar dela, mas descobri que no século XVIII era a dona do espaço que é hoje a Quinta Vigia e que o mirante que ainda existe sobre a baía tem o seu nome. Porque ela efetivamente controlava dali tudo o que entrava e saía da cidade. Comerciante e grande proprietária, competia com os ingleses na produção e comércio de vinho. O mirante era “só” para vigiar o que os seus barcos e os da concorrência transportavam.

Posto isto, proponho aos homens um exercício. Fechem os olhos e vão para o século XVIII… imaginem muitas destas mulheres a fazerem tudo isto de saltos altos, saias de balão e um espartilho apertado até os ossos. Agora venham para o século XXI: Experimentem andar dez metros em cima daqueles andores que são os sapatos de cunha, com um pequeno ao colo, mala ao ombro e abram o carro com o outro pequeno pela mão. Pode ser que depois disso os jornalistas façam notícia sobre a proeza.