Crise Política na Madeira
A “Operação Zarco”, de 24 de Janeiro, chocou a população, fez implodir o Governo Regional e provocou ondas de choque que atingiram mesmo os partidos a nível nacional -a maior crise política de sempre na história da Autonomia. O terramoto social apanhou os atores políticos de surpresa, obrigando-os a “improvisar” e revelar facetas desconhecidas.
O PSD-Madeira foi empurrado para fora da sua zona de conforto - o poder absoluto - e começou a derrapar, perante acontecimentos que já não controlava. Num primeiro momento, Miguel Albuquerque ainda tentou nadar contra a corrente mas - com ondas fortes a bater de todos os lados -, mesmo um campeão de natação tem de desistir. Num segundo momento, a reboque do PAN e do CDS, percebeu que era urgente encontrar um plano B: um novo governo, com novo plano e orçamento.
Alberto João Jardim defende eleições antecipadas. Pensando bem, talvez tenha razão. Um novo governo - que vai ficar dependurado do CDS, do PAN, e, a partir de 24 de Março, do Presidente da RepÚblica - não será uma boa aposta estratégica. O melhor seria investir no “rebranding” da imagem do partido - com caras e ideias novas, mais diálogo, novo logotipo - e ir procurar uma nova legitimidade junto do eleitorado.
Quando, na segunda-feira, 5 de Fevereiro, Miguel Albuquerque apresentar, pela segunda vez, o seu pedido de demissão ao Representante da República, ainda vão subsistir dúvidas jurídicas sobre se os trâmites dessa demissão estarão em conformidade com a Constituição e o Estatuto Político-Administrativo da RAM. No dia do seu aniversário - velas 4 e 8 para o bolo - o experiente Juiz Conselheiro certamente que, com a sua vasta experiência, vai encontrar uma solução para o imbróglio jurídico.
Ainda estamos dentro de uma bolha mediática e a perceção dos acontecimentos está a mudar, hora a hora. De qualquer forma, os atores políticos já estão a preparar as suas estratégias. Neste contexto, o PS-Madeira tem responsabilidades particulares - tem o dever de ser uma alternativa credível. No entanto, a liderança de Paulo Cafôfo deu-se ao luxo de excluir Carlos Pereira das listas para a Assembleia da República - o que fez passar a ideia de que o PS não é confiável porque, em nome de interesses obscuros, é mesmo capaz de sacrificar os seus melhores. As outras forças políticas estão a aguardar pelas decisões do Representante da República, antes de tomar uma posição.
A grande revelação veio do lado do PAN. Depois de ter andado estes meses com o PSD ao colo, a jovem deputada Mónica Freitas deu o pontapé de saída, ao pedir o afastamento de Miguel Albuquerque. Tem feito uma boa gestão dos tempos, para falar e para estar calada, revelando uma maturidade que, num primeiro momento, parecia não ter.
Nenhum cenário está ainda fechado. A procissão ainda vai no adro. Os resultados eleitorais de 10 de Março já vão dar alguma indicação sobre quais foram as reais consequências da presente crise.
Manuel Pereira