Será que Jardim foi mesmo um dos fundadores do PPD?
Alberto João Jardim é uma das personalidades madeirenses que merecem destaque na página de Internet do PSD nacional. Na sua biografia, refere-se que “foi um dos fundadores do Partido Popular Democrático (PPD) a 6 de Maio de 1974, e cofundador do PPD na Madeira, que nasce em Agosto do mesmo ano”. Por diversas vezes, o ex-líder social-democrata madeirense já reclamou para si esse papel central na criação do seu partido. Mas terá sido mesmo assim?
A nível nacional, o Partido Popular Democrático (PPD, mais tarde rebaptizado de PSD-Partido Social Democrata) foi efectivamente criado a 6 de Maio de 1974 e teve apenas três fundadores: Francisco Pinto Balsemão, Francisco Sá Carneiro e Joaquim Magalhães Mota. A 20 de Maio de 1974, nasce o PPD-Açores, liderado por João Bosco Mota Amaral. Foi logo após a revolução de 25 de Abril de 1974, altura em que surgiu uma profusão de partidos e movimentos.
O nascimento do PPD na Madeira não foi tão linear e rápido. Envolveu várias reuniões de simpatizantes do partido liderado por Sá Carneiro, bem como a integração dos elementos de outros dois movimentos – a Frente Centrista da Madeira (criada por Luciano Castanheira, Henrique Pontes Leça, António Aragão e Alberto João Jardim) e o Movimento de Autonomia das Ilhas Atlânticas (M.A.I.A.). O empresário madeirense António Gil Silva, pai do ex-vice-presidente do Governo João Cunha e Silva, teve um papel central. Foi mesmo o ‘militante n.º 1’ do PPD-Madeira.
O antigo director do DIÁRIO, Luís Calisto, autor do livro ‘Achas na Autonomia’ e que entrevistou dezenas de protagonistas políticos e recolheu muitos documentos desse período, descreveu deste modo o processo: “Ao saber que no Continente estava em gestação um Partido Popular Democrático, António Gil Silva escreveu a Sá Carneiro para saber das suas linhas programáticas. Essa carta seguiu a 3 de Maio de 1974. Dois dias depois, era Pinto Balsemão a escrever a resposta fornecendo os pormenores pedidos. Semanas passadas, de visita a Lisboa, António Gil falou pessoalmente (não chegou a 2 minutos) com Sá Carneiro, dizendo-lhe que a melhor opção era estender o PPD à Madeira por via dos simpatizantes que já se reuniam no Funchal para esse fim, mas sem esquecer os componentes da Frente Centrista. É que, aí por Maio, Junho e Julho, figuras como o Dr. [Acácio Augusto] Matias, Daniel Catanho, Jorge Sardinha, António Varela e o próprio António Gil dinamizavam acaloradas reuniões pró-PPD dentro de uma sede montada na Rua da Carreira, 67 - 2.º”.
Segundo relatou Luís Calisto, Alberto João Jardim “passou a tomar parte nestas reuniões do PPD original, que também ocorreram na Caixa de Previdência, mas sem conseguir impor a sua vontade como conseguiria impor no futuro”. “Ali todos falavam, quando ele [Jardim], como se sabe, gosta de falar sozinho. Até que um dia não teve remédio senão abandonar o comício e afastar-se dessa facção do PPD. Seria António Gil a ir buscá-lo outra vez, mais tarde, a fim de o integrar no movimento sá-carneirista”, remata o mesmo jornalista, já falecido.
Ele [Jardim] não fundou o PPD na Madeira e só apanhou o barco à última hora Paulo Martins (BE), em artigo de opinião no DIÁRIO de 24 de Abril de 2006
A 8 de Agosto de 1974, a Frente Centrista da Madeira publica no Jornal da Madeira o seu programa. A 20 de Agosto de 1974, anunciava-se que o PPD ia iniciar as suas actividades na Madeira e a sua constituição estava a cargo de uma comissão organizadora constituída por Henrique Pontes Leça, Jorge Malheiro de Araújo, João Florêncio Gomes de Aguiar, Jorge Bettencourt Sardinha e Henrique Augusto Rodrigues Abrantes. O partido iria funcionar provisoriamente na Praça do Município, 8-1.º - direito. Quatro dias depois, os fundadores da Frente Centrista anunciavam a sua adesão ao “principal partido nacional não-marxista, o Partido Popular Democrático (PPD)” e apelavam a todos os seus apoiantes para que seguissem o seu exemplo.
Até ao final do ano da revolução, seriam publicados nos jornais regionais vários comunicados do PPD, assinados por nomes de representantes como Acácio Augusto Matias, Avelino Ferreira, Maria Lídia Melim Teixeira Barbeito, Luís Filipe Costa, David Pedra, Manuel de Freitas Gonçalves e José Alberto Vasconcelos. Em 29 de Outubro de 1974, a convite do bispo do Funchal, Alberto João Jardim assume o cargo de director do Jornal da Madeira, que ocupou até ir para a presidência do Governo Regional, em meados de Março de 1978.
Em resumo, a referência à participação de Alberto João Jardim na fundação do PSD nacional, que consta da página oficial da estrutura partidária na Internet, não corresponde à verdade. Até mesmo o seu envolvimento na fundação do PPD-Madeira é indirecto. Participou, sim, na criação da Frente Centrista da Madeira, cujos dirigentes optaram por se juntar ao núcleo de pessoas que preparavam já o lançamento da estrutura regional do PPD.