A grande coincidência
O desembarque do Ministério Público na madrugada de 24 de janeiro na Madeira, foi tudo menos inocente. O governo regional tinha sido eleito há quatro meses, e com o suporte de uma maioria parlamentar tinha toda a legitimidade democrática para governar e cumprir o mandato de quatro anos, conferido pelos madeirenses.
O PSD-Madeira, ultrapassadas as divergências internas, naturais em qualquer processo de sucessão, estava motivado e unido. Miguel Albuquerque era (é!) líder incontestado, e Pedro Calado, o rosto principal da vitória no Funchal nas autárquicas de 2021, seria o seu natural sucessor depois de cumprido este ciclo.
Por outro lado, a oposição, estava desnorteada. O PS, tinha perdido a Câmara do Funchal, e sofrido (mais) uma pesada derrota nas regionais. Com a queda do Governo da República, motivada pela sucessão de casos e demissões a envolver ministros e secretários de Estado, Cafôfo, o eterno D. Sebastião do PS-M, estava à beira de perder o palco que António Costa tinha lhe dado, e sem ter para onde ir, voltou a ‘descobrir’ a sua paixão pela Madeira.
Com o CDS, que durante anos liderou a oposição, coligado com o PSD, e o JPP dividido pelas brigas entre os dois irmãos, o Ministério Público decide vir à Madeira montar um espetáculo, que o juiz e instrução já tratou de desmontar por não existir qualquer indício de crime. Mas o mal já estava feito. De uma assentada, o Ministério Público decapitou as lideranças do Governo Regional, da Câmara Municipal do Funchal e dos dois partidos que lideram a política madeirense.
De repente, a Câmara fica sem presidente. O Governo Regional fica em gestão. A Madeira fica sem orçamento. O PSD-Madeira tem de ir a votos. O CDS também. E o PS, que por ‘grande coincidência’ tinha realizado o congresso uma semana antes da chegada do Ministério Público, faz a festa. ‘Coincidências’, claro…
Ruben Coelho