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Crónicas

Linhas vermelhas e lápis azuis

Os mesmos que defendem acerrimamente a democracia são os primeiros a censurar com o mesmo lápis azul do Estado Novo

Existe uma parte da elite política e social do nosso país que se arroga no direito de reivindicar para si todos os méritos do 25 de Abril de 1974 e consequentemente do fim da ditadura. Como se fosse uma marca patenteada que só a eles lhe possa ser atribuída. A mim isso pouco me incomoda. O que me faz alguma confusão é que sejam as mesmas pessoas que se auto intitulam como reis de Abril a censurar outros partidos legalmente aceites pelo Tribunal Constitucional e que por isso têm tanto direito a existir como todos os outros. Há até quem lhe chame “cordão sanitário”, nome normalmente atribuído para a barreira que é criada para evitar a proliferação de qualquer agente infeccioso como se estivéssemos perante alguma doença ou pandemia. Ou seja, os mesmos que defendem acerrimamente a democracia são os primeiros a censurar com o mesmo lápis azul do Estado Novo, pensamentos políticos que estão nos antípodas dos seus.

Qualquer pessoa que ache isto uma incoerência é imediatamente conotada com o fascismo e colada a uma série de praticas abjectas que repudio e muitos como eu repudiam veementemente. Chama-se a ditadura do politicamente correto que se tenta impor disfarçada de boas intenções. Eu estou à vontade para escrever sobre o assunto porque nunca votei no Chega nem fui seu apoiante, o que acho sinceramente é que esta é precisamente a forma contrária de se combater certos fenómenos ou de fazer oposição a ideias contrárias às nossas. É no debate de propostas e na responsabilização por certo tipo de promessas que se deve reger a lógica politico partidária e não criando linhas vermelhas ou tratando alguns como os leprosos anti sistema. Porquê? Porque essa é precisamente a gasolina que os faz mover e que revolta muitos moderados que acham uma injustiça colocar-se de parte um partido quando no outro extremo existem outros com posições análogas mudando apenas as cores.

Esta semana a apresentadora Cristina Ferreira, ao entrevistar André Ventura, assumiu que quando estava na SIC foi impedida de o fazer, quando convidou todos os outros candidatos para o seu programa, como que se o fizesse, estivesse a promover ou a validar uma posição que para alguns não deveria sequer existir. Isto é grave porque desequilibra o espirito democrático das instituições e o acesso às mesmas. Da mesma forma o assumidamente comunista Ricardo Araujo Pereira decidiu entrevistar todos os candidatos deixando de fora o candidato do Chega que segundo todas as sondagens aparece como terceira força mais votada. Segundo uma notícia, o apresentador Cláudio Ramos pediu folga do seu trabalho para não ter que partilhar o mesmo “palco” que o André e existem mais relatos com iguais formas discriminatórias.

Considero que o Chega tem vindo a colocar na ordem do dia diversos temas que são importantes para a nossa sociedade. Não acredito em quase nenhuma das soluções que apresenta porque são utópicas, populistas e irrealistas e ainda menos acredito nas pessoas candidatas nas suas listas. É difícil ver alguém que sobressaia para além do líder e da deputada Rita Matias para um público mais jovem, parecem-me gente pouco qualificada, sem qualquer substancia e muitos estão lá por mero oportunismo. Isso não me dá o direito de os querer calar à força, de lhes traçar linhas vermelhas que nunca sequer foram equacionadas à esquerda nem vejo porque é que o partido não possa validar um governo de direita se os seus votos para isso forem necessários. Acredito até que daqui a uns anos vamos olhar para trás e ver novos partidos de direita, muito mais radicais, que representarão muito maior perigo para a nossa sociedade do que este. Percebo que a esquerda vendo-se pela primeira vez desde há muitos anos em posição minoritária queira cavalgar esta ideia para colocar a AD e a IL numa encruzilhada. O mesmo não consigo entender em relação a estes. É caso para dizer, Isto é Gozar com quem é democrático.