Madeira, uma terra em choque

Apesar dos folguedos carnavalescos e de toda aquela alegria esfuziante em que o carnaval é pródigo, o povo madeirense nunca deixou de pensar, de remoer e, diariamente, sentir (ainda com a perplexidade do momento), o que aconteceu com dois representantes que, há tão pouco tempo escolhera, não só para estarem à frente do seu principal Município como da sua própria Região.

Agora, sejamos realistas, independentemente do que tenha acontecido, já nada de mal ou de infame que surja ou venha a surgir neste infeliz País, constitui qualquer tipo de surpresa.

Portugal, no que à moral, dignidade, corrupção, oportunismo, discriminação social, incompetência, e a quase tudo ao que de valores diz respeito, bateu no fundo.

O País vive há décadas no sistema do «salve-se quem puder» e quem, efetivamente, for «esperto» e tenha a gloriosa «virtude» de não ter escrúpulos vive neste regime podre e fraudulento – há quem diga, ainda assim, que é o melhor que há – como peixe na água.

Evidentemente que, no tempo da «outra senhora» também existia esta pouca-vergonha, só que nessa altura havia respeito e havia medo e muita dessa gentinha podia não ter respeito, mas tinha medo, e isso travava muitos ímpetos gananciosos.

Agora, como não há respeito nem medo o País está deliberadamente a saque e a saque continuará, pois não tem havido vontade de pôr fim a este descalabro.

A corrupção, por exemplo, é um dos maiores flagelos de que o País se debate desde há muitos anos e ainda há bem pouco tempo alguém dizia que o País não tinha uma LEI verdadeiramente eficaz de combate a ela.

Não sejamos ingênuos, ela não existe porque há muita e boa gente que não lhe convém que a corrupção acabe.

Esta é a única dedução que extraímos do que temos visto e ouvido sobre esta questão.

- Voltando ao início deste texto, compreendemos a desilusão e frustração da maioria deste povo que, há quase 50 anos, deposita a sua confiança – por achar que não existe melhor ?- no mesmo partido para dirigir os destinos da sua Região e de um momento para outro depara-se com os nomes dos seus presidentes – da Região e da sua principal autarquia - envolvidos nas malhas da justiça.

É, digamos, traumatizante e causa, efetivamente, apreensão quando se fala em eleições antecipadas á maioria de um eleitorado que não confia no segundo partido habitualmente mais votado, como, aliás, foi demonstrado há cinco meses, não lhe concedendo votos para ganhar uma única das 52 freguesias, incluindo as que pertencem aos Concelhos onde lá têm os presidentes.

Com um PSD ferido – não sabemos se de morte –um PS –também com conflitos a bordo – sem confiança da maioria do eleitorado e os restantes partidos- com todo o respeito que nos merecem – sem arcaboiço para atingirem o PODER, umas próximas eleições serão bonitas de se ver.

O próximo MESSIAS que apareça não deve ter tarefa fácil, mesmo que surja com o dobro das promessas do costume e que se diga preparadíssimo para governar.

Porém- lá diz o povo- como há sempre um «sapato velho para um pé descalço», a Madeira não ficará sem ser governada. Lá disso temos a certeza.

Juvenal Pereira