Prisão perpétua para supremacista que assassinou família muçulmana no Canadá
Um tribunal do Canadá condenou na quinta-feira o supremacista Nathaniel Veltman à pena de prisão perpétua por quatro homicídios, ocorridos em junho de 2021, quando atropelou intencionalmente com uma carrinha uma família muçulmana.
A juíza encarregue do caso, Renee Pomerance, leu a sentença num tribunal lotado em London, cidade a cerca de 200 quilómetros de Toronto, capital da província de Ontário, no centro-este do Canadá.
Pomerance decidiu que o ataque constituiu um ato terrorista e que a brutalidade do crime exigia a imposição da pena mais rigorosa prevista pela lei canadiana.
Este foi o primeiro caso em que as leis antiterrorismo do Canadá foram aplicadas a um julgamento de homicídio em primeiro grau perante um júri.
De acordo com a lei canadiana, Pomerance estava obrigada a condenar Veltman a um mínimo de 25 anos de prisão, uma vez que ele foi considerado em novembro culpado de homicídio em primeiro grau.
"O agressor não conhecia as vítimas. Ele nunca os tinha visto. Matou-os porque eram muçulmanos", disse a juíza.
"É uma conclusão inevitável que o infrator cometeu um ato terrorista. Poderíamos ir mais longe e caracterizar isso como um exemplo clássico de motivação e intenção terrorista", acrescentou Pomerance.
Veltman matou o casal Madiha Salman, de 44 anos, Salman Afzaal, de 46, a filha Yumhan Afzaal, de 15 anos, e a mãe de Salman, Talat Afzaal, de 74 anos, quando passeavam por uma rua de London. O outro filho do casal, Fayez, de nove anos, sobreviveu com ferimentos muito graves.
A defesa de Veltman alegou que ainda que o acusado tenha atacado a família originária do Paquistão com uma carrinha de caixa aberta, não tinha a intenção de cometer homicídio.
Os advogados procuraram ainda mostrar que o condenado, de 22 anos, ligado a movimentos supremacistas, tinha problemas de saúde mental.
Antes do ataque mortal, Veltman escreveu um manifesto inspirado no 'The Grand Replacement', o texto de Brenton Tarrant, que em 2019 assassinou 51 muçulmanos na Nova Zelândia, no ataque a duas mesquitas de Christchurch.
Dois dias após o ataque, o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, qualificou-o de "ataque terrorista" e ato islamofóbico "motivado por ódio".
"Existe supremacia branca no Canadá. É uma ameaça. É terrorismo", disse hoje, após a leitura da sentença, Ali Islam, um membro da família Afzaal.
"A designação de terrorismo reconhece o ódio que alimentou isto", disse Tabinda Bukhari, mãe de Madiha Salman, uma das vítimas, num comunicado lido em frente ao tribunal.
"Mas esse ódio não existia no vácuo. Prosperou nos sussurros, nos preconceitos, no medo normalizado do outro", acrescentou.
O Canadá registou nos últimos anos vários ataques terroristas contra a comunidade muçulmana.
O mais grave aconteceu em janeiro de 2017, quando Alexandre Bissonnette assassinou a tiro seis pessoas e feriu gravemente outras seis, numa mesquita na cidade do Quebec.