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Rui Rio, onde andarás?

Sou-vos sincero, estava na dúvida sobre que título deveria dar a este artigo. Poderia muito bem ser a frase de Pinheiro de Azevedo: “O povo é sereno. É só fumaça”. A verdade é que Rui Rio tem vindo à memória, nos últimos tempos, sobretudo por duas razões específicas.

Há um certo complexo no espetro político de direita em não criticar o Ministério Público, mesmo quando a sua atuação merece ser criticada. Rui Rio fugiu à regra – se bem que podemos discutir em que plano da direita o próprio se enquadrava – e numa solidão total enfrentou o funcionamento do MP sendo vítima dos mais vis e soezes ataques feitos por aqueles que, hoje, insolitamente, defendem exatamente aquilo que outrora Rui Rio disse.

Compreendo algum recato de responsáveis políticos na crítica ao MP, ainda assim, como não padeço da doença do politicamente correto, direi de minha justiça. Os casos não são isolados e desmascaram um padrão de ação, e aquilo que mais repugna é a espetacularidade mediática que estas operações proporcionam e os efeitos que têm na vida pessoal dos envolvidos, fazendo com que anátemas sobrevoem a cabeça dos suspeitos colocando em causa a sua idoneidade.

O Ministério Público atua segundo uma lógica medieval numa absoluta demonstração de poder, sem prestar contas a rigorosamente ninguém promovendo uma visão obscura e obsoleta de uma parte importantíssima da Justiça Portuguesa que se quer robusta, inabalável e, inquestionavelmente, independente. Acontece que o MP tem sido alvo de juízos claramente alarmantes de personalidades que conhecem a estrutura de uma forma próxima, sendo exemplo disso Cunha Rodrigues – ex-Procurador Geral da República –, ou Maria José Neves – atual Procuradora-Geral Adjunta – alvo de um processo disciplinar interno depois de expor publicamente as fragilidades do MP, ou ainda Cândida Almeida – antiga Diretora do DCIAP – que foi implacável na defesa do segredo de justiça arrasando todos aqueles que o violam.

Entretanto, em parte incerta, ou porventura na sua Torre de Marfim, continua a Sra. Procuradora-Geral da República implacável na sua taciturnidade protegida pelo exército de Magistrados do Ministério Público, que dão o corpo às balas sem nunca receberem uma palavra pública de conforto e companheirismo por parte da sua liderança, ao contrário do que fez o Sr. Diretor Nacional da Polícia Judiciária que, bem ou mal, defendeu acerrimamente até à última gota todos aqueles que neste organismo do Estado colaboram.

A verdade é que Rui Rio me veio à memória também por uma outra razão. Por ter sido religiosamente fiel a princípios e valores basilares da sociedade e que o orientaram na sua atuação política, mas sobretudo na sua postura na vida pública. E recordei-o a ler o artigo de opinião de Miguel Iglésias, neste mesmo Diário, que exemplificou o pior do que a política pode ter.

Sejamos honestos, esse artigo envelheceu à velocidade da luz tal como envelheceu o deslumbre de um Partido Socialista que se dá ao luxo de pôr a olho nu o que em política há de mais mesquinho, brega e rasca.

Na incapacidade de fazer política como é sua obrigação – recorde-se que é deputado à Assembleia da República eleito por um círculo eleitoral que não a sua Terra Natal – Miguel Iglésias prefere regozijar-se por fazer (alegadamente) parte da acusação e ao mesmo tempo joga à adivinhação ou simplesmente transforma-se numa mosca – e todos sabemos do que elas gostam – para fazer também parte da defesa. Já política, nem vê-la. Bloqueado pela sua intelectualidade, ou falta dela, refugia-se num caso judicial para execravelmente rebaixar um homem exibindo o seu ódio ancorado numa inveja maquiavélica típica de um ogre.

O Partido Socialista tem quadros com princípios e valores firmes, como Sara Cerdas e Miguel Silva Gouveia, escusava de se resguardar na sordidez proveniente de Portugal Continental. A euforia dos atuais protagonistas deste PS ao assistirem àquilo que aqui aconteceu é a confissão profunda de que eles próprios se acham incapazes de vencer nas urnas quem dizem ter derrubado nos tribunais.

Quando a excitação esbarrar com a realidade será tarde demais.