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Madeira

Tribunal conclui que contas da Segurança Social da Madeira não são de confiar

O Instituto de Segurança Social da Madeira é presidido por Micaela Freitas desde Novembro de 2019 e é tutelado pela secretária regional Ana Sousa desde Outubro de 2023.
O Instituto de Segurança Social da Madeira é presidido por Micaela Freitas desde Novembro de 2019 e é tutelado pela secretária regional Ana Sousa desde Outubro de 2023.

A Secção Regional da Madeira do Tribunal de Contas (TC) recusou homologar a Conta de Gerência do Instituto de Segurança Social da Madeira, porque “o exame realizado (…) não permitiu concluir que os documentos de prestação de contas de 2022 (…) apresentam uma imagem verdadeira e apropriada da sua situação financeira”. A informação consta de um relatório assinado pelo juiz conselheiro Paulo Gouveia, que foi aprovado a 1 de Fevereiro e divulgado esta manhã pela entidade de fiscalização das contas de organismos públicos.

Neste relatório refere-se que as dúvidas sobre o carácter fidedigno e adequado da situação económico-financeira do ISSM já tinham sido levantadas no âmbito do processo de certificação legal de contas, razão que levou o fiscal de contas ‘MGI & Associados’ a optar pela escusa de emissão da sua opinião.

Estão em causa diversos problemas. Desde logo, o ISSM continua a fazer um controlo deficiente dos valores das contribuições em dívida, lacuna que em anos passados permitiu a algumas empresas e profissionais acumularem milhões de euros em dívidas, sendo que o montante acumulado de dívidas prescritas ascendia a 52,3 milhões de euros no final de 2022.“Não nos é possível aferir com segurança e rigor sobre o montante global da dívida a receber de contribuintes e das prestações sociais a repor, e consequentemente das provisões constituídas, bem como os impactos nos resultados do exercício e nos fundo próprios em referência a 31 de Dezembro de 2022”, justificam os revisores de contas.

Outra falha apontada é a não adopção do princípio da especialização dos exercícios previsto no Plano Oficial de Contabilidade das Instituições do Sistema de Solidariedade e de Segurança Social, não relevando contabilisticamente os juros de mora vencidos por atrasos no pagamento das contribuições por parte dos contribuintes. Há um registo de 102 milhões de euros de juros de mora, mas a sua exactidação “não é possível aferir”.

O revisor de contas refere ainda que o ISSM suporta o pagamento de pensões de aposentação e sobrevivência (720 mil euros em 2022), definidas pela Caixa Geral de Aposentações, relativamente aos trabalhadores que transitaram do regime de trabalho das diversas instituições de previdência. No entanto, não existe qualquer provisão nas contas para este efeito. “Na ausência de um estudo atuarial, não nos é possível determinar qual o valor das responsabilidades com complementos de reforma não registadas em 31 de Dezembro de 2022”, comenta o revisor de contas.

Por outro lado, o ISSM estava atrasado na transição para o Sistema de Normalização Contabilística (SNC) para as entidades públicas.

Em sede de contraditório, o conselho directivo do ISSM argumentou que “os motivos invocados para escusa de opinião do Fiscal Único e designadamente os relativos às contas de terceiros inerentes à relação contributiva e à relação prestacional, resultam de constrangimentos nos sistemas de negócio e dos processos de interface automáticos desses sistemas com Sistema de Informação Financeira, pelo que a melhoria desses processos depende de iniciativas que têm de ser promovidas e lideradas pelas instituições de segurança social de âmbito nacional, nomeadamente o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, o Instituto de Segurança Social e o Instituto de Informática”. “O ISSM está impossibilitado de, autonomamente e por sua exclusiva iniciativa, promover acções e processos com vista a satisfatoriamente responder aos motivos invocados para a escusa de opinião do Fiscal Único relativamente à conta de 2022”, reforça o órgão presidido por Micaela Freitas, que lembra que “o juízo do Tribunal de Contas à Conta Geral do Estado de 2022, na parte da Conta da Segurança Social, foi o de apresentar reservas e ênfases”.