Dezanove mulheres estão presas por motivos políticos na Venezuela
A Venezuela tem 19 mulheres presas por motivos políticos, entre ela a ativista de direitos humanos Rocío San Miguel e a luso-venezuelana Carla da Silva, licenciada em administração, segundo dados divulgados esta segunda-feira pela ONG Foro Penal (FP).
"A Venezuela tem atualmente 263 presos por motivos políticos, 19 mulheres e 244 homens, divididos em 116 civis e 147 militares, todos adultos", explica a organização não-governamental na sua conta no X, antigo Twitter.
Na mesma rede social, o FP indica que "desde 2014, registaram-se 15.818 detenções políticas na Venezuela", duas delas na última semana, a de Rocío San Miguel e a de Carlos Salazar Lares, detido numa loja de Nova Esparta após gravar um vídeo em que criticava o empresário Alex Saab, recém-libertado pelos EUA e atual presidente do Centro Internacional de Investimento Produtivo (CIIP) da Venezuela.
"O Fórum Penal prestou assistência gratuita a mais de 12.000 detidos que foram libertados e a outras vítimas de violações dos Direitos Humanos. Para além dos presos políticos, mais de 9.000 pessoas continuam a ser arbitrariamente sujeitas a medidas restritivas da liberdade", explica o FP no X.
A ativista dos direitos humanos Rocío San Miguel, de 57 anos, foi detida em 9 de fevereiro no Aeroporto Internacional Simón Bolívar de Maiquetía, a norte de Caracas, quando se preparava para sair do país, acompanhada por uma filha.
Rocío San Miguel é também especialista em segurança, defesa e temas militares, e presidente da Controlo Cidadão, uma ONG que analisa os compromissos do Estado venezuelano com o Estatuto de Roma e a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos.
Sobre a lusodescendente Carla da Silva, o Foro Penal lembra que "é licenciada em administração, luso-venezuelana" e está detida "com fins políticos desde 5 de maio de 2020".
Em outubro de 2023, o FP pediu, sem sucesso, às autoridades venezuelanas a libertação da jovem luso-venezuelana.
"Carla da Silva é uma das presas políticas na Venezuela. Foi detida arbitrariamente em 05 de maio de 2020, e encontra-se em 'El Helicoide' [prisão em Caracas], nesse lugar que tão bem se conhece porque vários presos políticos estão aí", afirmou o diretor do FP num vídeo divulgado na Internet.
Alfredo Romero disse ainda que a luso-venezuelana "está já há mais de três anos privada da liberdade, preventivamente, ou seja, sem ser condenada".
"Em conformidade com a nossa lei, deveria estar em liberdade, porque ninguém pode estar, na Venezuela, mais de três anos privado da liberdade preventivamente", sustentou.
Por outro lado, a professora de filosofia Miriam Marrero, mãe de Carla da Silva, disse que a filha "é uma presa política, uma sequestrada pelo regime".
"Na minha casa há um lugar vazio na mesa, na cama, e quando acordo pela manhã não posso dar os bons dias à minha filha, nem a bênção, porque foi sequestrada, torturada, apenas por ser uma peça de intercâmbio", disse precisando que Carla da Silva denunciou ter sido torturada por três funcionários das Forças de Ações Especiais (FAES).
Segundo a imprensa venezuelana, Carla da Silva foi detida durante uma festa infantil na qual conheceu uma mulher que teria alegadamente participado, dois dias antes, numa operação conspirativa conhecida como 'Operación Gedeón' (um ataque marítimo de ex-militares).
A luso-venezuelana foi levada por funcionários das FAES para La Quebradita (oeste de Caracas), onde foi interrogada e impedida de regressar a casa.
Passados 20 dias é que os familiares conseguiram saber que Carla da Silva tinha sido detida e onde se encontrava.
Segundo o portal Efecto Cocuyo, Carla da Silva foi torturada durante dois dias, amarrada e colocaram-lhe uma bolsa plástica na cabeça, enquanto era espancada. O telemóvel foi inspecionado e foi submetida ao polígrafo.