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Incluir – verbo que se conjuga na vida

O segredo da conjugação perfeita, em qualquer circunstância da vida, são as pessoas

O Encontro (Re)construir a Educação Especial, promovido pelo SPM, no passado fim de semana, fez-me repensar o verbo incluir em novas perspectivas. Aqui partilho consigo algumas delas.

Certamente, saberá conjugá-lo em todos os tempos, modos e pessoas.

E na vida, conjuga-o, sem cometer erros? Se o faz, parabéns, porque eu cometo-os com alguma regularidade e, por vezes, bem incómodos. Para mim, é muito mais fácil conjugá-lo gramaticalmente do que quando confrontado com as diferenças dos outros.

Todos sabemos conjugar, por exemplo, o presente do indicativo de incluir, quer na voz ativa, quer na passiva. Vejamos:

Voz ativa: eu incluo, tu incluis, […] eles incluem.

Voz passiva: eu sou incluído, tu és incluído, […] eles são incluídos. Muito fácil, não é? E se fosse no presente do conjuntivo? Igualmente fácil: que eu inclua, que tu incluas... (ativa); que eu seja incluído, que tu sejas incluído… (passiva). Nada difícil?

Porém, na vida real, como se conjuga? A resposta, na prática, é bem mais difícil do que a conjugação gramatical. Efetivamente, o segredo da conjugação do verbo incluir, na vida, não são os tempos, nem os modos, nem as vozes, nem…; o segredo da conjugação perfeita, em qualquer circunstância da vida, são as PESSOAS, não como categoria gramatical, mas como seres reais, diferentes de nós em mil e uma características, umas visíveis, outras invisíveis ao nosso olhar. Felizmente, não é habitual excluirmos as outras pessoas por diferenças que consideramos irrelevantes, como altura, peso, inteligência, beleza, estado de espírito, capacidade atlética, entre tantas outras que consideramos normais. No entanto, já não podemos dizer o mesmo em relação a diferenças de “ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação social” (n.º 2 art.º 13, CRP), que levam, frequentemente, a atitudes de exclusão sem sentido, em clara contradição com os valores humanos e com o estipulado na Constituição da República Portuguesa. Igualmente relevantes, são os comportamentos de exclusão das pessoas com deficiência.

Curiosamente, estudos internacionais demonstram que as atitudes de rejeição são aprendizagem sociais, já que as crianças mais pequenas, como referiu o Dr. Pedro Strecht, na conferência que sábado passado apresentou no SPM, incluem todos, independentemente da natureza das suas diferenças.

Em síntese, as minhas reflexões levaram-me a concluir que o verbo incluir é muito especial e repleto de especificidades. Aqui, lhe deixo 3:

• só é possível conjugá-lo, na perfeição, na vida real;

• são as crianças que melhor o conjugam;

• implica reciprocidade, pelo que só se realiza plenamente quando conjugado na voz ativa e na passiva: eu incluo – eu sou incluído; tu incluis – tu és incluído…