Líderes PS e PCP em colisão sobre salários e leis laborais mas disponíveis para diálogo
Os secretários-gerais do PS e do PCP travaram hoje um debate quase sem pontos de acordo, entrando mesmo em aberta divergência sobre política salarial e evolução das leis laborais, mas ambos manifestaram abertura para soluções pós-eleitorais.
No frente-a-frente, na SIC, que durou cerca de 30 minutos, Pedro Nuno Santos elogiou a experiência dos governos da "geringonça" entre 2015 e 2022. Porém, também acusou o PCP de incoerência face ao seu discurso em defesa dos trabalhadores, designadamente quando optou por votar contra as medidas da chamada "Agenda para o Trabalho Digno".
Já Paulo Raimundo, procurou demarcar-se politicamente de Pedro Nuno Santos ao longo do debate, procurando salientar que as propostas do PCP são diferentes das do PS "em questões centrais". E considerou que, perante o Orçamento do Estado para 2022, o seu partido foi alvo de "uma chantagem" por parte dos socialistas, razão pela qual votaram contra.
"A questão que se coloca é que avaliação os portugueses fazem destes dois anos de maioria absoluta, e das circunstâncias em que nós fomos para a maioria absoluta", declarou.
Defendeu, por isso, neste contexto, que a CDU precisa de sair das eleições legislativas de 10 de março com a força necessária para condicionar as soluções do futuro Governo, uma delas no sentido de promover um aumento dos salários e das pensões bem mais significativo do que tem acontecido nos últimos anos.
Um ponto em que o secretário-geral do PS aproveitou para estimar em cerca de três mil milhões de euros o aumento da despesa inerente à proposta do PCP só na administração pública.
"É uma chuva de promessas que não são pagáveis", sustentou, aqui também numa alusão às propostas comunistas para o aumento das pensões, numa parte do debate em que defendeu a continuação do processo de consolidação orçamental, com redução da dívida, embora num ritmo inferior à trajetória registada nos últimos anos.
Perante estas referências a limites a aumentos de pensões e de salários, o secretário-geral do PCP chegou mesmo a comparar as afirmações de Pedro Nuno Santos às posições do presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, e também criticou o líder socialista por não apoiar a reversão das nacionalizações.
Na habitação e na saúde, o líder comunista responsabilizou os governos do PS pelos problemas atuais, defendendo para o SNS uma política de fixação de profissionais de saúde, enquanto o secretário-geral do PS sustentou que o problema é mais vasto e passa também por uma reforma ao nível da organização do sistema.
Pedro Nuno Santos, entre outras medidas, defendeu uma maior autonomia para a gestão hospitalar -- perspetiva que estendeu a outras áreas do Estado.
O debate terminou com Pedro Nuno Santos a reiterar a sua ideia de que "Portugal deve cumprir os compromissos" com a NATO em matéria de defesa e a elogiar a coordenação da União Europeia no seu papel de auxílio à Ucrânia para fazer face à invasão russa.
Neste ponto, Paulo Raimundo disse que o PCP é pelo "caminho da paz", contra a corrida ao armamento.
"E vez de investirmos mais dinheiro em armas, se investíssemos esse dinheiro, esse esforço, no sentido de obrigar os intervenientes na guerra, nas guerras todas, a se sentarem à mesa e procurarem os caminhos da paz, como foram resolvidos praticamente todos os conflitos que conhecemos do ponto de vista internacional, sabendo nós que não é um caminho fácil", declarou.
Interrogado sobre a morte na prisão de Alexei Navalny, opositor do regime de Moscovo, o secretário-geral do PCP respondeu: "Morreu em circunstâncias que estão por apurar, que levantam dúvidas, a forma como morreu. E é preciso esclarecer tudo de uma vez por todas, até ao limite". Mas o líder comunista foi mais longe.
"Esta é mais uma entre muitas outras em que nós nos distinguimos completamente do lado oposto daquilo que são as opções do Governo capitalista russo", acrescentou.
O frente-a-frente entre Paulo Raimundo e Pedro Nuno Santos abriu com o tema da justiça, com o líder socialista a negar ter entrado em contradição e a insistir na necessidade de uma reforma neste setor com um amplo consenso político. Aqui, o líder comunista criticou a existência de uma justiça para ricos e outra para pobres e acusou PS e PSD de terem responsabilidades direitas em relação ao estado deste setor.