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Investigação Judicial Madeira

“Uma parte do povo madeirense sabia, desconfiava..”

Francisco Louçã sobre a investigação judicial desencadeada desde o dia 24 de Janeiro

Foto Arquivo / Leonardo Negrão / Global Imagens
Foto Arquivo / Leonardo Negrão / Global Imagens

O ex-dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, que esteve hoje na Madeira em apoio à candidatura à Assembleia da República, na apresentação do Manifesto Eleitoral, diz que ninguém ficou surpreendido com o processo iniciado a 24 de Janeiro sobre alegados casos de corrupção.

"Com franqueza, para nenhuma das pessoas que está nesta sala houve nenhuma surpresa nas últimas semanas. Não nos disseram nada de novo. Há depois uns detalhes picarescos. Bom, apareceu um envelope de 76 mil euros lá no chefe de gabinete do Governo da República. Parece que apareceu por aí uns envelopes com 900 mil euros. Um envelope com 900 mil euros é um envelope bem grosso, é uma enciclopédia. Mas, enfim, isso vamos sabendo ou esperemos o que se pode verificar. Mas há alguma novidade neste processo. Não sabíamos nós que tinha havido uma marina em que se gastaram 100 milhões de euros para depois a desmantelar, porque durante tantos anos só teve alguns meses de funcionamento e não servia para nada a tentada ambiental e a tentada económica. E, enfim, foi isso que eu disse. Tiram-vos esse dinheiro aos madeirenses, 100 milhões. Agora dou-vos uma certeza, alguém o recebeu", advertiu perante a plateia.

"E, portanto, quando nós ouvimos dizer que há uma única empresa que leva metade dos concursos e dos pagamentos na construção do governo, 300 milhões, há alguma surpresa", salienta e ironiza. "Vocês sabiam sempre isso. E, enfim, é isso. Uma parte do povo madeirense sabia, desconfiava, sentia que havia qualquer conta que não batia certo. A conta nunca bateu certo. A conta sempre foi o do favorecimento. Este governo regional, como os anteriores, ao longo do tempo, é campeão do favorecimento. Chama-se favorecimento. E a investigação criminal dirá o que tem a dizer. Mas há certeza política e económica de que este governo não cumpre regras, não cumpriu regras e não quer cumprir regras essenciais da democracia, que é a transparência, o uso das contas públicas de forma adequada, cumprir a lei, cumprir as regras, não ter uma clientela de amigos à sua volta para poder criar um partido de negócio, um partido de povo, um partido das suas próprias empresas, dos seus amigos".

Recordando que "isso é a batalha da esquerda e essa batalha não é de hoje, é de sempre", uma batalha que "nos deu coerência" e "é o que nos dá força neste contexto", garante Francisco Louçã. "Agora reparem, este regime está a cair. Este regime está a cair. O próprio resultado das eleições em que o PSD perde a maioria absoluta já indicava esse caminho. Pode-se dizer, fez uma aliança com o PAN, mas com franqueza, duas fraquezas não fazem uma força. Um partido pode continuar e outro pode adaptar-se. Um partido pode abandonar os seus princípios essenciais e colar-se a uma maioria que mais destruiu o ambiente. É difícil encontrar, há outros exemplos também no conjunto do país, mas é difícil encontrar campeões da destruição do ambiente como o governo regional da Madeira, agora com o apoio do PAN", acusou.

E, portanto, "esta junção de circunstância, de jogo, é simplesmente mais uma prova da fragilidade e da decadência política deste regime. É por isso que, à medida que contamos os votos nas eleições legislativas nacionais e nos vamos aproximando das próximas eleições para a Assembleia Legislativa Regional da Madeira, que virão a seguir, é tão importante que, em cada um destes passos, se afirme uma esquerda e se mostra uma esquerda, aqueles que não tiveram medo de dizer, não tiveram medo de enfrentar interesses, não tiveram medo das pressões, não tiveram medo das ameaças, não tiveram medo da verdade, porque queremos a verdade, queremos que se saiba, queremos que saiba quem eles são, como operam, o que é que fazem. E este regime, que é intrinsecamente o regime do favorecimento, e o favorecimento é a cultura da corrupção, é o que tem estimulado o ataque aos direitos dos madeirenses", reforça.

E conclui lembrando a frase de campanha, para atirar sobre os próximos eventos na Madeira. "E, por isso mesmo, quando dizemos fazer o que nunca foi feito, é para darmos a certeza que continuamos sempre no mesmo combate e conseguiremos o que nunca foi feito, que é derrotar uma maioria absoluta do PSD na Madeira, o PSD/PAN, conseguir reforçar a presença parlamentar do Bloco de Esquerda, precisamos de um de uma, precisamos de mais força para que seja determinante para o fim deste regime jardinista atrasado que vai vivendo na Madeira e que se vai agarrando a estes escombros do desastre que criou", aponta.