Férias na Sardenha ou a Islândia em agosto de ‘24?
A procura de destinos mais frescos ainda não é suficiente para justificar investimentos significativos
Os dias frios e escuros de inverno em janeiro, incentivam muitas vezes os europeus do norte a reservar as suas férias de verão com antecedência. Em Portugal, o turismo conseguiu ultrapassar os níveis pré-pandémicos, mas à medida que os números aumentam, os operadores turísticos enfrentam novas ameaças de longo prazo relacionadas com o aumento da frequência dos eventos climáticos.
Ondas de calor intensas no sul da Europa, que regularmente ultrapassam os 40ºC, e incêndios como os que devastaram a Grécia no ano passado, estão na origem de novas tendências de consumo. Operadores turísticos e hoteleiros estarão cientes do risco que enfrentam se os turistas começarem a evitar os destinos mais populares do sul da Europa?
Destinos mais frescos, como Islândia e a Dinamarca, aparecem pela primeira vez entre os 10 melhor classificados na variação de mudança nas chegadas de turistas internacionais em relação a 2019.
Cerca de 14 por cento dos turistas europeus começam agora a mencionar eventos climáticos extremos como sua principal preocupação quando planificam as suas férias. Embora ainda relativamente modesto, este número era de cerca de metade no ano passado. Por outro lado, os investidores que operam no setor do turismo, parecem subestimar os riscos climáticos, ao contrário das operadoras de viagens, que já começaram a reconhecer a ameaça e a apresentar alternativas aos seus clientes.
A Tui, por exemplo, começou a oferecer férias em alguns destinos do sul do Mediterrâneo, como Antália, na Turquia, durante todo o ano. A esperança é que os turistas que se sentem desencorajados por temperaturas extremas, possam ser persuadidos a fazer férias durante a primavera e outono. Mas estender a temporada de viagens não é linear. As férias escolares representam um entrave importante, que juntamente com o calor extremo, podem ser os principais responsáveis por uma mudança de comportamento nos planos de viagem.
Por outro lado, ainda tomando o exemplo da Tui, que é proprietária de 38% dos hotéis que comercializa, mesmo sendo a maioria operada sob contratos de gestão, tem uma reduzida flexibilidade de ajuste às oscilações nas tendências do mercado. Os incêndios na ilha grega de Rodes, por exemplo, custaram-lhes cerca de 25 milhões de euros durante o verão. No entanto, parece-me um impacto ainda limitado, pela elevada fidelização da procura deste tipo de destino.
A procura de destinos mais frescos ainda não é suficiente para justificar investimentos significativos no aumento da capacidade, mas verificando-se uma nova tendência, os países nórdicos vão certamente necessitar aumentar significativamente o número de camas e os países do sul vão enfrentar um problema na conversão do excedente que estão agora a criar.